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Custo do crédito atinge maior nível desde 2013 e inadimplência sobe em meio a juros elevados

Índice de Custo de Crédito do Banco Central subiu para 23,4% ao ano em agosto, maior nível da série histórica

O custo do crédito no Brasil alcançou em agosto o maior nível desde o início da série histórica, em janeiro de 2013. Segundo dados divulgados nesta segunda-feira (29) pelo Banco Central (BC), o Índice de Custo de Crédito (ICC) chegou a 23,4% ao ano, contra 21,5% ao ano em dezembro de 2024. O ICC é um indicador abrangente, calculado a partir do custo médio de todas as operações de crédito em aberto no Sistema Financeiro Nacional, tanto de famílias quanto de empresas, diferentemente da taxa média de juros, que considera apenas as operações contratadas mês a mês.

A taxa média de juros também seguiu em trajetória de alta. Em agosto, atingiu 31,8% ao ano, 3,3 pontos percentuais acima do nível registrado no início do ano. O movimento acompanha o ciclo de elevação da Selic iniciado em setembro de 2024, quando a taxa básica estava em 10,50% ao ano. Desde junho de 2025, a Selic está mantida em 15% ao ano, patamar que o Comitê de Política Monetária (Copom) indicou que será preservado por um período prolongado, a fim de avaliar se é suficiente para garantir a convergência da inflação à meta de 3%.

Fernando Rocha, chefe do Departamento de Estatísticas do BC, explicou que o ICC tende a oscilar de forma mais suave do que a taxa média de juros, já que leva em conta contratos antigos ainda ativos. “O que a gente pode ver nessas operações é que ela acompanha os ciclos de política monetária, os ciclos do crédito”, afirmou. Os dados mostram que a elevação do custo de crédito neste ano foi disseminada: para pessoas físicas, o ICC avançou de 25,1% ao ano em dezembro para 27,2% em agosto; para pessoas jurídicas, o índice subiu de 16% para 17,3% no mesmo período.

O relatório do BC também apontou para uma continuidade da alta da inadimplência, que chegou a 3,9% em agosto. O percentual é o maior desde maio de 2017, superando os 3,8% registrados em julho e os 3% de dezembro de 2024. Parte da alta, contudo, é atribuída a mudanças contábeis que entraram em vigor em janeiro deste ano, com a adoção do conceito de provisão por perdas esperadas. As novas regras prolongam a permanência de operações problemáticas na carteira de crédito, o que tende a elevar o índice de inadimplência. Um estudo do próprio BC indicou que cerca de 70% da elevação registrada no primeiro semestre de 2025 se deve a essa mudança.

Ainda assim, Rocha destacou que há uma tendência consistente, ainda que gradual, de crescimento da inadimplência tanto entre pessoas físicas quanto jurídicas. A combinação de juros altos, maior custo de crédito e aumento da inadimplência reforça a percepção de um cenário desafiador para o mercado de crédito brasileiro nos próximos meses, com impactos diretos sobre o consumo, o investimento das empresas e o ritmo da atividade econômica.

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