A Comissão de Valores Mobiliários abriu um processo sancionador contra o CEO da Azul, John Peter Rodgerson, após concluir que o executivo fez declarações públicas que extrapolariam o limite das informações consideradas adequadas para divulgação ao mercado. A apuração, que agora segue para julgamento, também envolve o vice-presidente de finanças da companhia, Alexandre Malfitani.
Segundo documentos internos da CVM, a acusação se baseia em uma entrevista concedida por Rodgerson em agosto do ano passado, período em que a companhia buscava demonstrar solidez operacional e afastar rumores sobre dificuldades financeiras. Na ocasião, o executivo mencionou expectativas de receita anual próxima de R$ 20 bilhões e citou a possibilidade de incremento de R$ 1 bilhão em receitas adicionais em 2025, resultado de um plano estratégico em curso. Técnicos do órgão regulador interpretaram essas informações como elementos que deveriam ter sido comunicados por meio de canais oficiais, conforme previsto pelas normas do mercado de capitais.
A investigação aponta que os dados apresentados pelo executivo tinham potencial de influenciar avaliações de investidores e analistas, especialmente diante do contexto vivido pela empresa naquele momento. Durante o segundo semestre, a direção da Azul se esforçava para reforçar sua credibilidade perante o mercado e afastar especulações sobre um possível pedido de recuperação judicial, cenário que acabou se concretizando posteriormente no exterior.
O entendimento preliminar da área técnica da autarquia é de que o conteúdo mencionado nas entrevistas ultrapassou o caráter genérico usual em comunicações públicas e avançou sobre projeções e estimativas que demandariam divulgação formal. Os autos, que ainda não são públicos, foram encaminhados para análise da área julgadora, responsável por definir se houve infração às regras de transparência e de conduta previstas para administradores de companhias abertas.
Com o processo já caracterizado como sancionador, Rodgerson e Malfitani passam à condição de réus administrativos, situação que implica direito à defesa e possibilidade de apresentação de documentos adicionais antes da deliberação final. A CVM, por padrão, não comenta casos em curso. A Azul também não se manifestou até o momento.
O julgamento, quando ocorrer, poderá resultar em absolvição, advertências, multas ou outras penalidades previstas na legislação do mercado de capitais. Ainda não há data definida para a conclusão do caso.









