A Raízen intensificou as discussões para reforçar seu balanço após a forte desvalorização de seus títulos de dívida no exterior. Segundo pessoas com conhecimento do assunto, as conversas entre os acionistas ganharam urgência diante do aumento da pressão financeira sobre a companhia, que atua nos segmentos de biocombustíveis e distribuição de combustíveis.
De acordo com as fontes, a Shell Plc e a Cosan, acionistas controladoras da Raízen, juntamente com a BTG Pactual Holding, avaliam uma possível injeção de capital de até R$ 10 bilhões. As negociações também envolvem potenciais parceiros terceiros. Paralelamente, a empresa caminha para concluir cerca de R$ 10 bilhões em vendas de ativos, incluindo a alienação de sua refinaria na Argentina.
O movimento ocorre em um momento considerado decisivo para a companhia. A necessidade de reforço de caixa é vista como relevante diante do impacto de juros elevados, safras abaixo do esperado e investimentos de grande escala — como etanol de segunda geração e combustível sustentável de aviação — que ainda não apresentaram retorno financeiro significativo.
A reorganização da dívida também tem gerado discussões entre os financiadores da Raízen e da Cosan. Segundo fontes, o chairman do BTG, André Esteves, e o CEO do Itaú Unibanco Holding, Milton Maluhy Filho, mantiveram contatos diretos sobre uma estrutura de dívida relacionada a dividendos da Cosan que envolve a Raízen. Em seu balanço do terceiro trimestre, a Cosan informou que o Itaú possui exposição à empresa.
Segundo as fontes, a situação financeira mais frágil da Raízen explicaria a pressão do Itaú por uma renegociação dessa exposição, em busca de uma solução considerada mais rápida e com menor risco. A Shell, que detém 44% do capital da companhia, também é apontada como participante potencial da capitalização em discussão.
Procuradas, Raízen, Cosan e Itaú não comentaram. O BTG Pactual SA e o BTG Pactual Holding informaram que não terão papel ativo na reestruturação financeira da Raízen. Um porta-voz da Shell declarou que a empresa não comenta rumores de mercado, mas afirmou estar confiante nas medidas adotadas pela gestão da Raízen para reduzir o endividamento e fortalecer o balanço.
A pressão sobre a empresa se reflete no desempenho de seus títulos e ações. Os bonds em dólar da Raízen acumulam queda de 17% nos últimos três meses, figurando entre os piores desempenhos entre empresas de mercados emergentes. As ações preferenciais recuaram abaixo de R$ 1, levando a companhia a avaliar medidas para atender às regras locais de listagem. No acumulado do ano, os papéis caíram 62%, enquanto a Vibra SA registrou valorização de 48%.
As agências de classificação de risco também revisaram suas avaliações. A S&P Global Ratings rebaixou a nota da Raízen de BBB para BBB-, com perspectiva negativa, mantendo a empresa um nível acima do grau especulativo. A decisão ocorreu após a Moody’s Ratings rebaixar a companhia para grau especulativo, citando deterioração dos indicadores de crédito e fluxos de caixa negativos.
Segundo Nicolas Giannone, analista sênior da mesa da Balanz UK, os fundamentos da Raízen tendem a permanecer pressionados por pelo menos mais uma safra. Na avaliação dele, qualquer melhora na posição de endividamento dependerá de fatores externos e, caso ocorra, deve ser parcial e temporária.








