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Produtividade agrícola deve cair e limitar crescimento do agro em 2026

Queda de produtividade e base de comparação elevada explicam desaceleração do setor

Depois de registrar um dos melhores desempenhos de sua história recente, a agropecuária brasileira deve atravessar 2026 em um ritmo bem mais moderado. Projeções de instituições financeiras e centros de pesquisa indicam que o Produto Interno Bruto (PIB) do setor ficará próximo da estabilidade, reflexo de menor produtividade das lavouras, base de comparação elevada e incertezas climáticas.

O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) projeta crescimento de 0,4% para o PIB agropecuário em 2026, após avanço estimado de 10,6% em 2025. O Itaú trabalha com números semelhantes, estimando alta próxima de 11% neste ano e variação em torno de 0% no próximo.

Para a economista do Itaú Natália Cotarelli, o desempenho esperado para 2026 não deve ser interpretado como negativo. Segundo ela, o setor deve permanecer em um patamar elevado de produção após um ano excepcionalmente forte. A economista ressalta que, depois de um salto expressivo como o de 2025, a estabilidade tende a ser um resultado consistente.

Na avaliação de Sílvia Matos, economista do Ibre/FGV, o nível atual de produção do setor dificulta novas altas expressivas. Ela destaca que a agropecuária se encontra em seu ponto máximo recente e que ganhos adicionais dependem, sobretudo, de condições climáticas favoráveis. A economista lembra ainda que, embora o agro represente cerca de 6% do PIB, sua influência sobe para aproximadamente 25% quando considerados os encadeamentos com a indústria e os serviços.

Em 2025, a agropecuária deve liderar o crescimento entre os grandes setores da economia brasileira. O Ibre projeta avanço de 2% para a indústria e de 1,6% para os serviços. Para 2026, o cenário se inverte: a indústria deve crescer 2,3% e os serviços, 1,7%, enquanto o agro tende a apresentar o pior desempenho relativo.

O impacto do setor sobre o crescimento econômico ficou evidente no início de 2025. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o PIB do primeiro trimestre cresceu 1,5% frente ao trimestre anterior, impulsionado por uma expansão de 16,4% da agropecuária no período.

Segundo Leonardo Porto, economista-chefe do Citi Brasil, sem a safra excepcional registrada neste ano, o crescimento do PIB brasileiro teria ficado abaixo de 2,2%. Ele destaca que a produção de soja cresceu dois dígitos em volume em 2025, enquanto as primeiras estimativas para 2026 indicam crescimento de apenas 1% a 2% em toneladas, o que reduz significativamente o impulso econômico do setor.

As projeções da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) reforçam esse cenário. A estatal estima que a área plantada de grãos aumentará cerca de 3% em 2026, mas a produção total avançará apenas 0,6%, alcançando 354,4 milhões de toneladas. Com isso, a produtividade média deve cair 2,3%, para 4.210 quilos por hectare.

Soja e milho, responsáveis por aproximadamente 40% do valor do setor, devem perder dinamismo. Em 2025, a produção de soja deve crescer 14,5% e a de milho, 20%. Para 2026, o Itaú projeta avanço de no máximo 1% para a soja e queda de 6% para o milho.

No Mato Grosso, principal Estado produtor, o plantio da soja foi concluído, mas enfrentou dificuldades. Segundo Lucas Costa Beber, presidente da Aprosoja Mato Grosso, o início do plantio ocorreu acima da média histórica, mas perdeu ritmo na segunda metade do ciclo devido à irregularidade das chuvas. Ele afirma que este foi um dos plantios mais longos já registrados no Estado.

Dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) indicam produtividade estimada de 60 sacas por hectare na safra atual, abaixo das 66 sacas por hectare colhidas no ciclo anterior. Beber avalia que a quebra pode ser maior, em razão do clima mais seco, do aumento da incidência de pragas como a mosca-branca e do maior risco de ferrugem asiática.

Outras culturas apresentam trajetórias distintas. A cana-de-açúcar deve crescer cerca de 3% em 2026, após recuar aproximadamente 1,5% em 2025. Já o café, que teve produção estável neste ano, pode registrar queda em torno de 1% no próximo ciclo, segundo estimativas do Itaú.

Para José Carlos Hausknecht, sócio da consultoria MB Agro, a principal variável de risco segue sendo o clima. Ele observa que a safra de 2026 foi semeada com atraso, o que tende a prejudicar a produtividade. No entanto, lembra que situação semelhante ocorreu no ciclo anterior, quando o volume de chuvas ao longo do ano acabou compensando as perdas iniciais.

Hausknecht acrescenta que o crescimento excepcional de 2025 também foi influenciado pela base fraca de comparação, já que o PIB do setor recuou 3,7% em 2024. Segundo ele, a combinação de expansão da área plantada, clima favorável e produtividade elevada explica o salto observado neste ano — fatores que dificilmente se repetem com a mesma intensidade em 2026.

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