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Banco do Brasil aposta em MP do agro para reduzir inadimplência e acelerar recuperação

Banco do Brasil vê na MP do agro chance de reduzir inadimplência e retomar concessão de crédito

O Banco do Brasil (BB) vê na Medida Provisória (MP) de renegociação das dívidas de produtores rurais, publicada pelo governo na última sexta-feira (5), uma oportunidade para acelerar a recuperação de resultados após um trimestre desafiador. A presidente da instituição, Tarciana Medeiros, afirmou que a medida deve ajudar a reduzir gradualmente a inadimplência no crédito rural, que atingiu máximas históricas no segundo trimestre de 2025.

“Eu acredito, sim, numa redução gradual da inadimplência, e também na retomada da possibilidade de concessão de crédito, de concessão do Plano Safra, a partir da renegociação”, declarou Medeiros em entrevista ao Estadão/Broadcast. Do total de R$ 12 bilhões liberados pelo Tesouro para a renegociação, a executiva espera que pelo menos metade seja direcionada ao banco.

O otimismo, no entanto, vem em meio a um cenário de resultados abaixo do esperado. O BB registrou lucro líquido ajustado de R$ 3,8 bilhões no segundo trimestre, queda de 60,2% em relação ao mesmo período de 2024 e recuo de 48,7% frente ao trimestre anterior. Analistas projetavam lucro entre R$ 4,64 bilhões e R$ 5 bilhões.

Na entrevista, Tarciana também comentou as sanções da Lei Magnitsky, aplicadas contra o ministro do STF Alexandre de Moraes. Segundo ela, o BB e outras instituições financeiras nacionais estão avaliando os efeitos práticos da medida. “Temos tratado como sempre tratamos as questões de legislação dos países onde estamos inseridos, e os Estados Unidos é um deles”, disse. Foi a primeira manifestação pública da presidente sobre o tema.

Veja algumas partes da entrevista:

A MP editada pelo governo na última sexta-feira, 5, prevê o uso de até R$ 12 bilhões de recursos do Tesouro Nacional para a liquidação ou amortização de dívidas rurais. Qual porcentagem deve ser direcionada para o BB?

Temos mais ou menos 48 mil clientes inadimplentes no período entre 15 e 90 dias. Considerando que a MP visa a atender em torno de 100 mil clientes inadimplentes no mercado, estou fazendo a estimativa de (recebermos) metade dos valores. Mas ainda não temos um número fechado, porque depende desse período de desembolso e recebimento das parcelas em vencimento. Vamos trabalhar bastante para não só utilizar os recursos da MP, mas também ver o espaço negocial com grandes produtores de áreas onde houve seca ou cheia que prejudicou a produção, mas não por duas produções seguidas. Com a renegociação de recursos livres, vamos poder incluir esses produtores.

Depois do 2º trimestre, a sra. previu que o resultado do BB continuaria ‘estressado’ no 3º trimestre, por causa dos vencimentos e da inadimplência da carteira agro, com previsão de melhora a partir do 4º trimestre. Como a MP afeta esse cenário? Ela pode acelerar a melhora prevista?

A gente tem, com certeza, a expectativa de que acelere o nosso processo de retomada de resultado. Mas ainda é uma expectativa; temos de entender como vai se dar a velocidade da renegociação. Eu mantenho a informação de que está previsto um resultado mais estressado no terceiro trimestre, com retomada a partir do quarto. E a minha expectativa é que a retomada a partir do quarto trimestre seja acelerada, a partir do momento em que a gente entenda como vai se dar essa velocidade de renegociação dos produtores. Nós seremos incansáveis na busca da renegociação da regularização para que os produtores retomem a capacidade de produzir e a capacidade de crédito, e que o banco aumente a velocidade de regularização e de concessões.

Existe uma expectativa de valores para essa renegociação com recursos livres, e de como vai ficar a taxa de juros?

Os preços de mercado vão variar com base no perfil de risco de cada cliente. Nós teremos preços adequados para os clientes que estão fora dos perfis previstos na MP (para uso dos recursos do Tesouro), com o recurso livre do banco, para que a gente faça a renegociação com eles também. Esses clientes já estão sendo contatados, porque têm perfis muito específicos e que a gente precisa estudar caso a caso. E o prazo de até nove anos para a renegociação é muito interessante, porque alguns produtores vão precisar dos nove anos, e outros vão precisar só de três ou quatro. Essa flexibilidade da MP, de poder organizar a dívida do produtor com base na capacidade de pagamento, também é algo muito interessante.

A inadimplência na carteira agro do BB chegou ao maior nível da série histórica no 2º trimestre deste ano. A sra. espera que a MP ajude a diminuir a inadimplência?

Sim. Para nós, é uma oportunidade nas duas frentes: renegociar as dívidas e acabar com essa pressão de inadimplência na carteira do agro, de um lado; e, do outro, voltar a conceder crédito para esse produtor. O produtor volta a ter possibilidade de produzir condizente com a sua capacidade de fato, não mais premido por necessidade de pagamento das dívidas.

(Com Estadão)

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