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JPMorgan mantém recomendação neutra para Cosan e Raízen

Banco avalia que gatilhos como capitalizações e M&As ainda têm baixa visibilidade

O JPMorgan manteve recomendação neutra para as ações da Cosan e da Raízen após um ano marcado por elevada volatilidade e dificuldades financeiras para ambas as companhias. Segundo o banco, o desempenho dos papéis segue condicionado a eventos relevantes, como capitalizações e operações de fusões e aquisições, ainda sem clareza quanto ao momento ou à dimensão.

Em 2025, Cosan e Raízen enfrentaram um ambiente adverso caracterizado por juros elevados, com a taxa básica permanecendo em torno de 15% durante grande parte do ano, além de estratégias que não geraram os resultados esperados. O cenário pressionou a estrutura de capital das empresas, levando os controladores a buscar alternativas para reforço financeiro.

No caso da Cosan, houve um acordo para injeção de capital com a entrada de novos sócios, entre eles o BTG Pactual e a Perfin. Para a Raízen, no entanto, ainda não há uma definição concluída, fator que contribui para a cautela do banco em relação à companhia. O JPMorgan fixou preço-alvo de R$ 6 para a Cosan e optou por não estabelecer preço-alvo para a Raízen.

Os analistas também destacam que os mercados de açúcar e etanol seguem pressionados por excesso de oferta, o que limita a geração de caixa no curto prazo. Em contrapartida, o banco demonstra maior otimismo com os negócios de concessões de gás e distribuição de combustíveis, que podem oferecer maior resiliência operacional.

Apesar de atribuir a mesma recomendação às duas companhias, o JPMorgan indica preferência relativa pela Cosan. Segundo o banco, a Raízen atravessa um processo de reestruturação mais profundo, com elevada alavancagem financeira, o que torna o valor de suas ações mais sensível a variáveis de longo prazo. A pressão sobre os papéis levou a Raízen a ser enquadrada pela B3 por negociar abaixo de R$ 1, condição que exige a apresentação de um plano para recuperação do preço das ações.

Para a Cosan, o banco avalia que a tese de investimento segue fortemente dependente de eventos, mesmo após a capitalização recente. Entre os pontos ainda aguardados pelo mercado estão uma eventual capitalização da Raízen e a venda de ativos considerados não essenciais. De acordo com o JPMorgan, ao aplicar um desconto de 25% sobre o valor patrimonial, em linha com holdings latino-americanas comparáveis, não há indicação de potencial relevante de valorização no curto prazo.

No médio prazo, contudo, o banco avalia que o desconto em relação ao valor presente líquido pode diminuir. Isso estaria associado à estratégia anunciada pela administração, que prevê redução da alavancagem a zero no nível da holding e concentração de investimentos apenas nas subsidiárias. Um ambiente macroeconômico mais favorável, com queda dos juros e eventual reabertura da janela para IPOs e operações de M&A, também poderia melhorar a percepção do mercado.

A entrada de novos parceiros financeiros, como BTG e Perfin, é vista positivamente pelo JPMorgan, principalmente pelo impacto na governança corporativa da Cosan. Ainda assim, a Raízen permanece como o principal foco de atenção dos analistas, em razão da alavancagem elevada, estimada em 4,0 vezes ao fim de 2026, e da expectativa de queima de caixa nos próximos dois exercícios fiscais.

Segundo informações da Bloomberg, a Shell e a Cosan avaliam, junto com o BTG Pactual, uma possível injeção de recursos na Raízen que pode chegar a R$ 10 bilhões. O JPMorgan, por sua vez, trabalha com a hipótese de um aumento de capital mais expressivo, em torno de R$ 18 bilhões, como necessário para reduzir a alavancagem para 2,5 vezes.

Apesar das pressões, o banco destaca avanços operacionais na Raízen. A companhia passa por um processo de transformação que pode gerar economia anual superior a R$ 500 milhões em despesas. No horizonte de longo prazo, essas medidas poderiam somar até R$ 10 bilhões, contribuindo para a redução da dívida bruta e permitindo maior foco nos ativos principais.

O JPMorgan também projeta melhora no negócio de distribuição de combustíveis a partir de 2026, com recuperação gradual de margens e volumes, especialmente diante do reforço das ações governamentais de combate à sonegação fiscal no setor.

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