Economistas veem comunicado do Copom mais duro que a decisão de elevar Selic
Economistas acreditam que o Banco Central demonstrou preocupação com o forte ritmo da atividade econômica

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano, deixando economistas intrigados com o tom mais duro adotado no comunicado, que sugeria um ajuste mais forte, de 0,50 ponto percentual. Participantes do mercado apontaram que o Banco Central demonstrou preocupação com o forte ritmo da atividade econômica e com a desancoragem das expectativas inflacionárias, fatores que poderiam justificar uma alta maior da Selic.

Para José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, o destaque foi a assimetria de alta nos riscos, com base na revisão do hiato do produto — a medida de ociosidade da economia. "O que era uma dúvida virou convicção, com o mercado de trabalho mais aquecido", afirmou.

Alexandre Manoel, economista-chefe da AZ Quest, ponderou que a alta de 0,25 ponto pode ter sido uma escolha consciente do BC, que prefere agir de maneira gradual em meio à incerteza sobre o quão restritiva está a taxa de juros. "O BC, de forma clássica, constrói o ciclo com 0,25 ponto", explicou.

Cenários divergentes entre Brasil e EUA

O cenário de uma economia aquecida no Brasil contrasta com o dos Estados Unidos, onde o Federal Reserve (Fed) reduziu suas projeções para o PIB. Enquanto o Fed revisou sua estimativa de crescimento de 2,1% para 2%, o mercado brasileiro ajustou para cima suas expectativas, com a AZ Quest prevendo uma alta de 3% para o PIB em 2024. Manoel destacou que a atividade econômica no Brasil está acelerando, superando o PIB potencial, o que justificaria o aumento dos juros.

Drausio Giacomelli, estrategista-chefe para mercados emergentes do Deutsche Bank, acredita que o Copom poderia ter adotado um ritmo mais forte, com altas de 0,50 ponto, para lidar com a inflação desancorada da meta e a inércia no setor de serviços. Para ele, a decisão de 0,25 ponto pode ter sido um "preço" para garantir consenso no colegiado, mas a mensagem do comunicado foi inconsistente com a ação.

Projeções futuras e impacto da política monetária

Giacomelli projeta que o BC terá que acelerar o ritmo nas próximas reuniões, com pelo menos duas altas de 0,50 ponto percentual, levando a Selic a 12%. Já Rafael Cardoso, economista-chefe do Daycoval, destacou que o Copom aumentou sua projeção de inflação para 2026, de 3,2% para 3,5%, o que indica que o hiato do produto positivo exigirá uma política monetária mais restritiva. Cardoso, que anteriormente esperava estabilidade na Selic, agora projeta três altas de 0,25 ponto, chegando a 11,5% em janeiro de 2025.

Brasil na contramão da tendência global

Enquanto o Fed iniciou a flexibilização monetária com um corte de 0,50 ponto percentual, o ciclo de aumento de juros no Brasil coloca o país na contramão das tendências globais. Embora a redução dos juros nos EUA possa trazer algum alívio para a inflação brasileira via câmbio, Cardoso alertou que os fatores domésticos, como o hiato positivo, continuarão sendo mais importantes para o Copom.

Giacomelli observou que o aumento do diferencial de juros entre Brasil e EUA pode estabilizar o dólar ao redor de R$ 5,40, mas isso dependerá da comunicação do BC e do Fed, além do compromisso do Copom com a meta de inflação. Já Manoel apontou que a política fiscal será o fator decisivo para definir a duração do ciclo de alta de juros no Brasil.

Com essas incertezas, o mercado continuará atento aos próximos movimentos do Banco Central, que terá de equilibrar o controle da inflação com a manutenção do crescimento econômico.

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