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Em meio a novos ruídos fiscais no cenário doméstico e a um ambiente externo desafiador, os juros futuros encerraram o pregão dessa sexta-feira (7) em alta, refletindo uma precificação da taxa Selic terminal próxima de 16%. Nos Estados Unidos, sinais de resiliência do mercado de trabalho, somados às declarações do presidente Donald Trump sobre a possibilidade de impor novas tarifas a produtos de diversos países, impulsionaram os rendimentos dos Treasuries. No Brasil, a especulação em torno de um possível aumento no valor do Bolsa Família contribuiu para o aumento da percepção de risco fiscal.
Ao final do dia, as taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) apresentaram alta significativa: o DI para janeiro de 2026 subiu de 14,955% para 15,02%, enquanto o DI para janeiro de 2027 avançou de 15,025% para 15,195%. Já o DI para janeiro de 2027 registrou alta de 14,695% para 14,90%, e o DI com vencimento em janeiro de 2031 passou de 14,645% para 14,88%.
O pregão foi impactado desde as primeiras horas por um ambiente internacional adverso. Dados do Departamento do Trabalho dos EUA mostraram que a economia americana criou 143 mil postos de trabalho em janeiro, resultado inferior à expectativa de 169 mil vagas. No entanto, o número de dezembro foi revisado para cima, de 256 mil para 307 mil empregos criados. Ademais, a taxa de desemprego recuou de 4,1% para 4%, enquanto o salário médio por hora teve alta de 0,48% no mês, superando a estimativa de 0,3%.
Esses indicadores fortaleceram os rendimentos dos Treasuries e consolidaram a expectativa de que o Federal Reserve não deve reduzir os juros nas próximas duas reuniões. No fechamento do mercado, o rendimento da T-note de dois anos subiu de 4,222% para 4,298%, e o da T-note de dez anos avançou de 4,445% para 4,496%.
Durante a tarde, a agência Reuters noticiou que Donald Trump planeja anunciar tarifas universais sobre produtos importados, o que aumentou a pressão sobre os ativos locais. Paralelamente, o ambiente doméstico também trouxe preocupações adicionais. O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Wellington Dias, em entrevista à DW, mencionou que o governo considera reajustar o valor do Bolsa Família devido à alta dos preços dos alimentos, o que agravou a percepção de risco fiscal e pressionou as taxas futuras.
Embora a equipe econômica do governo tenha negado posteriormente a existência de planos concretos ou espaço fiscal para tal reajuste, o impacto já havia sido incorporado aos ativos financeiros. Nesse contexto, a curva de juros passou a refletir uma expectativa de Selic terminal em 15,98% ao final do ciclo de alta.