Inflação em 2024 pode estourar o teto da meta devido à bandeira tarifária e clima seco, apontam economistas
Na última sexta-feira, a XP Investimentos e o Santander Brasil revisaram para cima suas estimativas para o IPCA de 2024

A adoção da bandeira tarifária vermelha nas contas de energia elétrica e os impactos do clima seco sobre os preços de alimentos devem fazer com que a inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ultrapasse o teto da meta de 4,5% em 2024. Essa é a previsão de economistas consultados pelo Estadão/Broadcast, que alertam para os riscos crescentes de uma inflação mais elevada no próximo ano.

Se essa previsão se concretizar, 2024 será a oitava vez desde 1999 – quando o regime de metas de inflação foi adotado no Brasil – que a inflação ultrapassa o intervalo de tolerância. Além disso, seria o terceiro rompimento do teto em apenas quatro anos (2021, 2022 e 2024), período em que o Banco Central esteve sob o comando de Roberto Campos Neto. Quando isso acontece, o presidente do Banco Central é obrigado a escrever uma carta ao Conselho Monetário Nacional (CMN) detalhando as razões para o não cumprimento da meta.

Na última sexta-feira, a XP Investimentos e o Santander Brasil revisaram para cima suas estimativas para o IPCA de 2024. A XP elevou a projeção de 4,4% para 4,6%, enquanto o Santander ajustou de 4,1% para 4,4%. Em relatórios, ambas as instituições atribuíram a piora nas expectativas às condições climáticas, que vêm pressionando os preços da energia e dos alimentos. “O período seco está se aproximando do fim, com chuvas abaixo da média e temperaturas mais altas, que podem durar por mais algumas semanas ainda”, afirmou o Santander em seu relatório.

Bandeira tarifária agrava cenário inflacionário

A bandeira tarifária da energia elétrica passou de verde em agosto para vermelha 1 em setembro e, em outubro, alcançou o nível vermelho 2, o mais crítico possível. Tanto a XP quanto o Santander preveem que a bandeira ao final do ano permanecerá ao menos no nível vermelho 1. Essa perspectiva é confirmada por técnicos da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), segundo informações apuradas pelo Estadão/Broadcast.

O economista João Fernandes, da Quantitas, também aponta a bandeira vermelha como um dos principais vetores para um possível estouro do teto da meta em 2024. Sua projeção para o IPCA é de 4,7% no final do ano, considerando um cenário em que há 70% de chance de a bandeira tarifária estar no nível vermelho 2 em dezembro e 30% no nível vermelho 1.

Contudo, Fernandes destaca que o maior risco para a alta da inflação no curto prazo são os preços dos alimentos. "A principal vilã do momento é a carne bovina", afirma, ressaltando que o preço da arroba do boi gordo tem subido consistentemente nas últimas semanas.

Chance de alívio depende das chuvas

Apesar do cenário adverso, Fernandes não descarta a possibilidade de um IPCA abaixo do teto de 4,5% ao final do ano, caso o volume de chuvas seja maior do que o esperado em outubro, o que poderia trazer alívio tanto para os reservatórios quanto para a produção agropecuária. "Mas seria um cenário onde as coisas surpreendem no sentido benigno", pondera o economista.

A economista Laiz Carvalho, do BNP Paribas, projeta um IPCA de 4,4% em 2024, com a consideração da adoção da bandeira tarifária vermelha 1 ao final do ano e uma inflação de alimentos acumulada de 6% no período. No entanto, Laiz reconhece que o viés é de alta. "Já estamos considerando uma retomada dos preços dos alimentos para os próximos meses, pelo efeito das secas recentes e pelo comportamento sazonal mais alto de alimentos no final do ano", explica. Caso a bandeira vermelha 2 seja adotada em dezembro, Laiz calcula um IPCA de 4,67%, acima do teto.

O Itaú Unibanco também prevê uma inflação abaixo do teto da meta (4,4%), mas reconhece os riscos de alta. "O balanço de riscos é majoritariamente altista, com chance de a seca pressionar ainda mais os preços de energia (via acionamento da bandeira vermelha 1 em dezembro) e dos alimentos", alerta o economista-chefe do banco, Mario Mesquita, em relatório divulgado na sexta-feira.

Apesar das pressões relacionadas ao clima, o Itaú destaca que esses riscos podem ser parcialmente compensados por uma possível redução no preço da gasolina, devido à defasagem entre o preço doméstico e a cotação internacional do combustível. Essa redução, se confirmada, poderia amenizar o impacto inflacionário no curto prazo.

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