Alemanha pode entrar na mais longa recessão desde a reunificação do país
O alerta vem da Federação das Indústrias Alemãs (BDI), principal entidade representativa do setor industrial

A economia alemã enfrenta uma crise estrutural profunda, que pode resultar na mais longa recessão desde a reunificação do país, há quase 35 anos. O alerta vem da Federação das Indústrias Alemãs (BDI), principal entidade representativa do setor industrial, que aponta uma deterioração significativa do ambiente econômico.

“O crescimento industrial sofreu uma ruptura estrutural. As carteiras de pedidos seguem vazias, as máquinas estão paradas e os investimentos das empresas diminuíram — ou foram direcionados para fora da Alemanha”, afirmou Peter Leibinger, presidente da BDI. “Não me lembro de um clima tão pessimista entre as empresas industriais.”

A economia alemã foi fortemente impactada pela pandemia da covid-19 e, posteriormente, pela guerra na Ucrânia. As sanções contra o petróleo e o gás russos agravaram ainda mais o cenário, elevando os custos de produção e reduzindo a competitividade das indústrias.

No entanto, para Leibinger, os problemas estruturais começaram antes, ainda no verão de 2018, quando a produção industrial do país atingiu seu pico. “Durante anos, sucessivos governos postergaram reformas essenciais, frearam investimentos e se acomodaram no status quo”, criticou.

Durante um evento em Berlim, a gerente-geral da BDI, Tanja Gönner, destacou que a Alemanha figura entre as economias mais atrasadas da União Europeia. Desde a invasão russa à Ucrânia, setores industriais que consomem grande quantidade de energia viram sua produção encolher em 20%, enquanto a indústria como um todo já opera 16% abaixo do nível registrado no segundo trimestre de 2018.

“A indústria alemã encara mais um ano difícil. As perspectivas são sombrias, o que torna ainda mais urgente que o próximo governo federal compreenda a gravidade da situação e adote medidas corajosas para reverter essa tendência negativa”, alertou Gönner.

A crise industrial também reflete no mercado de trabalho. Em 2023, as principais empresas alemãs da Fortune 500 anunciaram mais de 60 mil demissões, resultado de um ambiente macroeconômico cada vez mais hostil. Fortemente dependente das exportações, a economia alemã se mostrou vulnerável à retração do comércio global.

Outro fator que pesa contra a indústria alemã é a desaceleração da demanda chinesa. Além da concorrência crescente de fabricantes locais, os consumidores da China estão optando cada vez mais por veículos produzidos internamente, reduzindo as exportações automotivas alemãs para o país asiático.

Agora, a Alemanha também observa com preocupação o cenário político nos Estados Unidos. A possível volta de Donald Trump à presidência norte-americana gera temores sobre a imposição de tarifas às importações europeias, o que afetaria desproporcionalmente a Alemanha, que nos últimos anos buscou fortalecer seus laços comerciais com os EUA em detrimento da China.

De acordo com a BDI, caso Trump adote novas barreiras comerciais contra produtos alemães, a economia do país pode encolher 0,5% em 2024, acima da contração de 0,1% prevista atualmente.

Para enfrentar a crise, a entidade propõe uma estratégia baseada em três pilares: redução da burocracia, aceleração da transição para tecnologias verdes e digitais, e aumento dos investimentos em infraestrutura. “O investimento público em infraestrutura moderna, na transformação e na resiliência da nossa economia é urgentemente necessário”, enfatizou Leibinger.

O alerta da BDI surge em um momento de turbulência política. A Alemanha se prepara para eleições nacionais em fevereiro, após o chanceler Olaf Scholz dissolver o governo em dezembro. O cenário eleitoral é incerto, com expectativas de crescimento do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), o que pode dificultar ainda mais a formação de um governo de coalizão capaz de enfrentar os desafios econômicos do país.

redacao
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