A Argentina tem enfrentado uma crise econômica sem precedentes, com uma inflação devastadora que, no último ano, fez os preços aumentarem quase 300%. No entanto, o cenário começou a mudar após a posse de Javier Milei, em dezembro, com a inflação mensal caindo de impressionantes 25% para cerca de 3,5%. A estabilização, embora significativa, ainda esbarra em obstáculos estruturais profundos, como a escassez de reservas internacionais e uma economia extremamente regulada.
Redução dos Subsídios e Ajustes Econômicos
Um dos primeiros passos de Milei foi a eliminação de subsídios estatais amplamente adotados no passado, especialmente no setor de eletricidade, onde cobriam até 95% do custo. Embora esses cortes tenham pressionado os preços para cima, a medida visa ajustar o orçamento e refletir uma economia de mercado mais equilibrada, com preços que correspondam à oferta e demanda. Janeiro de 2024 foi o primeiro mês desde 2008 em que o governo argentino registrou um superávit fiscal, ainda que este equilíbrio tenha sido, em parte, consequência da inflação alta sobre benefícios e pensões.
Críticas e Expectativas Econômicas: A Voz de Cachanosky
Apesar dos avanços, Milei enfrenta críticas tanto da esquerda quanto da direita. Roberto Cachanosky, um economista proeminente no país, expressa insatisfação com as promessas não cumpridas de Milei. Entre elas, a dolarização da economia, que exigiria uma quantidade de dólares que o banco central não possui, e a promessa de cortes de impostos, contradita pelo aumento de tributos como o imposto PAIS e o imposto de renda. Cachanosky reconhece a importância da redução do déficit, mas critica o aumento dos impostos, que, segundo ele, contradiz princípios liberais.
Desregulamentação e Impacto no Mercado de Aluguéis
As reformas de Milei incluem a suspensão dos controles de aluguel, o que resultou em uma queda de 40% no valor dos aluguéis em termos reais e em um aumento de 300% na oferta de imóveis para locação em Buenos Aires. Essa liberalização tem estimulado o setor imobiliário e aliviado o mercado, mas Cachanosky enfatiza que, sem reformas tributárias profundas e cortes de gastos governamentais, as dificuldades econômicas persistirão.
Os Desafios das Empresas na Argentina
Para empresários como Gustavo Lázzari, que lidera uma fábrica familiar de embutidos, operar na Argentina significa enfrentar uma carga tributária esmagadora e uma burocracia paralisante. O sistema tributário multifacetado, com impostos em três níveis – municipal, provincial e federal – cria um fardo que leva muitos negócios a operarem parcialmente na informalidade. Lázzari ressalta que cerca de 30% das empresas argentinas funcionam no mercado informal, um reflexo direto do ambiente hostil para negócios no país.
Perspectivas de Reformas no Mercado de Trabalho e Comércio Exterior
Empresas internacionais, como a fabricante sueca de caminhões Scania, também enfrentam desafios devido às regulamentações argentinas. Andres Leonard, responsável pela operação da Scania nas Américas, destaca a volatilidade nos impostos e o impacto dos controles cambiais, que limitam o acesso a moedas estrangeiras. Embora veja avanços com a administração Milei, Leonard alerta para a necessidade de mais reformas, especialmente nas leis trabalhistas, que considera essencial para o crescimento econômico sustentável.
Reflexões Finais: Um Olhar para o Futuro da Economia Argentina
A gestão de Milei marca um ponto de inflexão na tentativa de equilibrar uma economia marcada por décadas de intervenções e déficits recorrentes. À medida que o país se aproxima das eleições de 2025, Milei e sua equipe enfrentam o desafio de garantir estabilidade econômica sem sacrificar o apoio popular. Embora os avanços sejam evidentes, críticos como Cachanosky e empresários como Lázzari lembram que o caminho para uma economia plenamente funcional ainda é longo e cheio de incertezas.
