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Nesta segunda-feira (4), o índice principal de ações do Japão, o Nikkei 225, alcançou um feito inédito ao superar a marca dos 40.000 pontos pela primeira vez em sua história. Com um aumento de 0,5% nas negociações do dia, o índice encerrou as atividades em 40.109,23 pontos, marcando o segundo recorde em menos de um mês. Em 22 de fevereiro, o Nikkei havia ultrapassado seu recorde de 1989 ao fechar acima dos 39.000 pontos.
A valorização impressionante, agora em 19,8% nos primeiros meses de 2024, dá continuidade ao rali de mais de 28% visto em 2023. A BlackRock, renomada gestora de investimentos, acredita que o brilho da bolsa japonesa persistirá ao longo deste ano. "Estamos testemunhando agora os esforços dos políticos e das corporações em transformar o que antes era um ambiente relativamente desinteressante para os investidores", afirmou Belinda Boa, responsável pelos investimentos na Ásia da empresa, em um relatório.
O Japão atravessa um período de grandes transformações: reformas corporativas e nas regras das Bolsas estão em andamento; o país finalmente conseguiu romper com o ciclo deflacionário (a inflação atingiu 2,2% em janeiro, o 22º mês consecutivo acima de 2%); os salários estão em ascensão; e os juros permanecem negativos. Após dois trimestres seguidos de contração, com -0,4% no quarto trimestre e -3,3% no terceiro trimestre, o país entrou em recessão técnica, perdendo assim o posto de terceira maior economia do mundo. Contudo, a notícia é positiva para o mercado de ações. A enfraquecida economia deverá reduzir a pressão sobre o Banco do Japão para aumentar os juros, indo contra a tendência observada na maioria dos países. Com taxas baixas, os custos das empresas são reduzidos e o iene desvalorizado, o que acelera os lucros das empresas exportadoras.
Para a BlackRock, existem cinco razões que justificam a exposição dos investidores ao mercado japonês em 2024.
1. Retorno da inflação
Depois de décadas de deflação, a inflação voltou ao Japão e está em níveis controlados, de 2,6% em dezembro. Para Belinda, isso significa que “em vez de acumular caixa e se preocupar com custos, as empresas poderão aumentar os preços, levando à expansão das margens e ao aumento da lucratividade”.
2. Diversificação
Há opções para diferentes exposições no Japão, sem concentração em setores de tecnologia ou semicondutores, por exemplo. Belinda afirma que a alocação no Japão pode se beneficiar de baixa correlação impulsionada por políticas macroeconômicas, além de ser um mercado de ações inerentemente diferente do resto do mundo.
3. Fluxo
O governo alterou a política de impostos para incentivar a população que guarda dinheiro em casa a mudar para títulos e outros ativos. Para a executiva da BlackRock, essa mudança irá aumentar o fluxo financeiro (estimado em trilhões de ienes) de investimentos nos próximos anos, com uma parcela destinada a ações.
4. Mudanças corporativas
Os antigos conglomerados não rentáveis japoneses estão se convertendo em empresas mais enxutas, com múltiplos melhores, lucros mais altos e as respectivas ações estão destravando valor. “Este é apenas o começo. Ainda há muito valor para ser desbloqueado com as reformas corporativas”, diz Belinda.
5. Bolsa reformada
A Bolsa de Tóquio instituiu obrigações em 2023 que exigem das empresas o reinvestimento em seus negócios, para crescimento e aumento do retorno aos acionistas. Os principais alvos são empresas que negociam abaixo do valor de seus ativos totais. No índice TOPIX, metade das empresas estão nessa situação.
Mas nem tudo são flores na Terra do Sol Nascente. Economistas avaliam que a economia está dividida. Se por um lado os lucros corporativos estão altos e os preços aumentando, os salários não estão acompanhando e a população está relutante em gastar. Os principais detratores do PIB de 2023 foram justamente o consumo e os investimentos corporativos, ambos fracos.
Diante disso, Belinda destaca que, embora o cenário das ações japonesas seja promissor, é necessária uma “seleção ativa” para achar as melhores opções. “É um esforço para melhorar os retornos à medida que o mercado dá passos importantes em seu renascimento”, diz.