'Pessoas que fazem mais pelos outros tendem a ser mais felizes’, diz Laurie Santos, professora da Universidade de Yale

“Obrigada por escrever. Nas últimas semanas, comecei a receber mais de cem e-mails por dia. Acompanhar tantas solicitações estava prejudicando meu tempo. Agora, estou fazendo uma experiência pessoal de bem-estar. Vou tentar praticar o que prego e reduzir a quantidade de horas que passo no e-mail”, diz a mensagem automática do endereço eletrônico de Laurie Santos, professora de Psicologia na Universidade de Yale, nos EUA. A tentativa de entrevistá-la parecia fadada ao fracasso. Mas, pelo visto, o experimento pessoal de Laurie ainda não está surtindo efeito. Ela respondeu à mensagem exatamente 1h05m após recebê-la.

Afinal, por que a americana de 46 anos é tão requisitada? Laurie conquistou fama e prestígio mundial ao criar em 2018 o curso “Psychology of the good life” (“Psicologia da vida boa”, em tradução livre). Adaptado para a plataforma online Coursera, ganhou o nome "A ciência do bem-estar" e se tornou um dos mais procurados em Yale em seus mais de 300 anos de história, com mais de 3,3 milhões de inscritos.

Nele, ajuda as pessoas a alcançarem a tão almejada felicidade usando elementos da chamada psicologia positiva, e seu propósito não é propriamente curar males psíquicos, mas potencializar as virtudes do ser humano. Laurie não é a única a seguir este caminho. Em vários cantos do planeta, proliferam cursos deste tipo, mostrando que, antes mesmo da escuridão da pandemia, havia muita gente em busca de luz.

À primeira vista, os cursos mais parecem livros de autoajuda fatiados em módulos e transportados para o ambiente digital. Fala-se em mudanças de hábito (dormir bem, fazer exercícios físicos), da importância do altruísmo e da generosidade para a mente, dos impactos positivos da gratidão na psiquê. Tudo isso carregado de dados científicos para sustentar tais teses e de associações com outras áreas do conhecimento.

—Esses cursos estão bem conectados com a cultura da autoajuda, um filão editorial que não goza de muito prestígio. Então, buscam se aproximar da filosofia, por exemplo, normalmente para um público que se entende como mais seleto — diz Mayka Castellano, professora do departamento de Estudos Culturais e Mídia da UFF.

No Brasil, o curso de Laurie foi o quarto mais procurado do Coursera em 2020. Nos EUA, no Reino Unido, na França, nos Emirados Árabes e na Malásia, está em primeiro lugar. Há muitos outros, a um Google de distância. Na plataforma de e-learning Udemy, há pacotes com a temática por R$ 40. Na PUC do Rio Grande do Sul, “O que é Felicidade” e “Felicidade, emoções positivas, bem-estar e empatia” são opções de cursos à distância mais densos (e mais caros) que oferecem certificação profissional.

— Pesquisas mostram que existem ideias universais de felicidade, como a de que conexões sociais aumentam o bem-estar, e pessoas que fazem mais pelos outros tendem a ser mais felizes — diz Laurie, que comanda um podcast de sucesso, o “Happiness Lab”. — Acho fantástico que, mesmo com as diferenças culturais, muitas práticas são globais.

(Talita Duvanel)

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