A decisão do governo federal de elevar o IOF em algumas operações cambiais pegou de surpresa as corretoras especializadas em investimentos internacionais. Fintechs como Avenue, Nomad e Wise começaram a repassar as novas alíquotas já na sexta-feira (23), após o anúncio do aumento na última quinta-feira (22).
Antes, remessas para contas no exterior do mesmo titular — com finalidade de investimento — tinham alíquota de 0,38%. O decreto original previa elevação para 3,5%, mas, após forte reação do mercado, o governo recuou parcialmente e fixou o imposto em 1,1%.
O custo de envio de moeda estrangeira em espécie ou via cartões vinculados a contas internacionais também subiu, passando de 1,1% para 3,5%. Apesar da alta, a procura por investimentos no exterior cresceu. A Nomad reportou uma demanda “muito acima da média” entre quinta e sexta-feira, enquanto a Avenue registrou um volume de remessas quatro vezes maior que o habitual.
Segundo Caio Fasanella, diretor de investimentos da Nomad, o movimento mostra que os investidores estão agindo com urgência. Ele destaca que quem já diversificou parte do patrimônio para o exterior está parcialmente protegido. Já quem deixou para depois, agora paga mais caro para fazer o mesmo movimento.
Para Fasanella, o aumento do IOF escancara o desequilíbrio fiscal: em vez de cortar despesas, o governo escolheu elevar impostos. Isso pode pressionar a inflação, desvalorizar o real e reforçar a necessidade de diversificar em moedas fortes. “Nunca se sabe até onde o IOF pode ir, ou até que ponto o dólar pode subir”, alerta.
João Arthur, chefe de investimentos da Suno Wealth, compartilha a mesma visão. Ele acredita que o aumento do imposto deve impulsionar ainda mais a busca por diversificação internacional. “A insegurança provocada por medidas assim mostra a importância de um planejamento robusto e de longo prazo”, afirma.
Apesar da mudança ter sido parcial, o clima de incerteza se espalhou entre os clientes. Para muitos analistas, o episódio trouxe à tona falhas de comunicação do governo, lembrando situações anteriores como os ruídos no desconto do INSS e na política do Imposto de Renda. Nas fintechs, o impacto foi imediato: houve aumento na demanda por explicações e transmissões ao vivo com clientes para esclarecer dúvidas.
Na Avenue, o CEO Roberto Lee e o estrategista William Costa fizeram uma live para orientar os investidores. “Quem enviou dinheiro na quinta-feira pagou 0,38%. Quem mandar agora paga 1,1%. E ninguém sabe se amanhã será 3,5%. Estar seis meses adiantado é melhor do que cinco minutos atrasado”, resumiu Costa.
As fintechs não devem lançar novos produtos no curto prazo, apesar do aumento da procura. Além do IOF, as operações ainda envolvem tarifas de câmbio entre 1% e 2%, além de possíveis taxas de abertura de conta global.
Para quem pretende iniciar a diversificação internacional agora, a recomendação é simples: ir aos poucos. Comprar dólares de forma parcelada ajuda a suavizar o impacto de oscilações cambiais e evita o risco de investir tudo em um pico de alta. “A volatilidade é alta. O melhor caminho é formar um câmbio médio ao longo do tempo e manter a estratégia conservadora”, finaliza Fasanella.