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Fundos ligados ao Banco Master compraram ações do BRB antes de anúncio de aquisição e não informaram ao mercado

Os fundos têm relações diretas com o Banco Master: Deneb e Celeno são administrados pela Master Corretora, Borneo pela Reag e Verbier pela WNT

Meses antes de o Banco de Brasília (BRB) anunciar a aquisição de 58% do Banco Master, quatro fundos — Deneb, Celeno, Borneo e Verbier — passaram a montar posições relevantes nas ações preferenciais do BRB, chegando, juntos, a deter 16% do capital total do banco. A operação foi divulgada em 28 de março, envolvendo a compra de 49% das ações ordinárias e 100% das ações preferenciais do Master, mas mantendo Daniel Vorcaro no controle executivo da instituição.

Apesar de cada fundo, individualmente, deter mais de 5% das ações preferenciais do BRB — patamar que exige notificação à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) — nenhum comunicou a movimentação ao mercado no momento da aquisição. A regra da CVM visa garantir transparência e prevenir que investidores influenciem silenciosamente decisões empresariais ou movimentem os preços das ações sem o conhecimento dos demais acionistas.

Os fundos têm relações diretas com o Banco Master: Deneb e Celeno são administrados pela Master Corretora, Borneo pela Reag e Verbier pela WNT. Todos adquiriram ações do BRB entre julho de 2023 e fevereiro de 2024. Em nota, o BRB afirmou que os fundos citados não possuem, individualmente, mais de 5% do capital total da instituição e que todas as etapas do aumento de capital foram comunicadas via fato relevante. A CVM, por sua vez, confirmou que há processos em andamento relacionados ao caso, mas não comenta investigações específicas.

A reportagem do E-Investidor identificou diversas similaridades entre os fundos. Deneb e Celeno foram criados no mesmo dia e, inicialmente, investiram R$ 188 milhões cada no fundo Verbier, antes de destinarem a mesma quantia para o aumento de capital do BRB aprovado em dezembro. Já Borneo e Verbier compraram quantidades idênticas de ações ordinárias e preferenciais do banco antes da capitalização. Somente o Borneo foi oficialmente incluído pelo BRB como acionista relevante, após questionamentos da reportagem.

Essas operações levantam dúvidas sobre possível privilégio de informação, já que os fundos administrados por instituições diretamente ligadas ao Banco Master investiram em um ativo que se valorizaria fortemente com o anúncio da aquisição. Para a economista Cristina Helena Pinto de Mello, da PUC-SP, a falta de transparência fere a equidade entre os participantes do mercado.

O fundo Borneo, por exemplo, exerceu influência significativa ao eleger representantes no Conselho Fiscal do BRB com 94% dos votos disponíveis para ações preferenciais em uma assembleia ocorrida em março.

A especialista Lígia Maura Costa, da FGV, também questiona a falta de transparência na operação. Ela aponta que o episódio levanta dúvidas sobre o uso de recursos estatais em uma negociação que, na prática, se assemelha a um resgate de um banco privado, o que exige maior escrutínio público.

Além dos quatro fundos principais, os fundos Asterope e Delta também negociaram ações do BRB, mas já venderam suas posições. Ambos foram administrados pela Master Corretora. O Asterope investiu R$ 188 milhões em janeiro e migrou para CDBs do Master em abril. O Delta aplicou R$ 51,7 milhões, saiu da posição e também direcionou os recursos ao banco de Vorcaro. Essas vendas ocorreram logo após o anúncio da transação BRB-Master, que provocou uma valorização de 80% nas ações do BRB no dia 31 de março.

A North Sea, gestora do Delta, afirmou que as posições detidas eram inferiores ao limite de 5% e, por isso, não tinham obrigação de informar à CVM. A MAM Asset, responsável pelo fundo Asterope, não se manifestou.

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