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Azul devolve primeira aeronave regional e avança na reestruturação

A dívida registrada no processo protocolado pela empresa gira em torno de R$ 35 bilhões

A Azul atualizou seu plano de reorganização de frota no âmbito do processo de recuperação judicial nos Estados Unidos, pedindo a devolução de 20 aeronaves e oito motores, incluindo o primeiro avião da Azul Conecta, seu braço regional. O pedido, protocolado na última sexta-feira (20), será analisado pelo juiz Sean H. Lane, responsável pelo caso na Justiça americana, com audiência marcada para 9 de julho. A iniciativa integra o processo de “Chapter 11”, que permite às empresas em dificuldade financeira reorganizar suas operações com proteção judicial.

Entre as aeronaves que a companhia deseja devolver está o Cessna 208B de matrícula PS-CNA, um turboélice de nove lugares que inaugurou a operação da Azul Conecta — unidade estratégica para a aviação regional brasileira. Criada no fim de 2020, a Azul Conecta surgiu após a aquisição da TwoFlex, em um negócio de R$ 120 milhões. A empresa atua em regiões remotas e cidades com pouca infraestrutura aeroportuária, operando rotas de baixa demanda para estimular o mercado local. Com a crise da Voepass, tornou-se a única aérea com operação regional nacional no Brasil.

Além do Cessna, a Azul solicitou a devolução de 13 jatos Embraer 190, que devem ser substituídos por modelos E2, de nova geração. Também serão retirados da frota quatro turboélices ATR 72-600 e dois cargueiros Boeing 737-400SF. O plano abrange ainda oito motores — sete CF34-10E da GE e um CFM56-3C1 da CFM International. A empresa argumenta que os modelos listados estão operando com custos elevados e enfrentando dificuldades de manutenção, agravadas pela escassez global de peças.

A estratégia da companhia é reduzir em até 35% a sua frota futura planejada, abrindo espaço para devolver aeronaves atualmente subutilizadas ou afetadas por gargalos logísticos. O “Chapter 11” permite que a empresa escolha quais ativos manter ou devolver, com proteção contra retomada de aeronaves por arrendadores enquanto durar a cobertura judicial.

Em março de 2024, a Azul operava com 184 aeronaves, sendo 24 Cessna da Azul Conecta. A reestruturação tem como um de seus pilares a substituição desses ativos por equipamentos mais eficientes, além da adoção de contratos do tipo ACMI (Aircraft, Crew, Maintenance and Insurance), que permitem a terceirização de frota com tripulação e manutenção incluídas. A Azul já firmou parcerias nessa modalidade com as empresas europeias EuroAtlantic e Hi Fly para contornar a falta de aviões operacionais, especialmente em voos internacionais.

No entanto, a operação com aeronaves e tripulação estrangeira gerou reação do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), que ingressou com uma ação civil pública pedindo a suspensão da autorização concedida pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). A Azul, por sua vez, afirma que todos os acordos seguem a legislação brasileira e atendem aos seus padrões de segurança e operação.

A companhia estima que perdeu até 3% de sua capacidade de assentos em um único mês do primeiro trimestre de 2025 devido a falhas na cadeia de suprimentos — um dos fatores que motivaram o reforço da frota com aeronaves estrangeiras via ACMI. A Azul era a única entre as grandes aéreas brasileiras que ainda não havia recorrido ao “Chapter 11” após os efeitos devastadores da pandemia.

A dívida registrada no processo protocolado pela empresa gira em torno de R$ 35 bilhões. A Azul planeja apresentar o plano final de reestruturação para aprovação judicial até 28 de dezembro deste ano, com expectativa de concluir o processo em março de 2026. Ainda assim, fontes próximas alertam que o cronograma está sujeito a revisões, dado o caráter imprevisível dos trâmites no tribunal americano. Procurada, a companhia não comentou os novos passos da sua reorganização.

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