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Filha de deputado, irmão de prefeito e ex-mulher de ministro do STF estão entre assessores da Caixa

Nomeações políticas e vínculos com o Centrão dominam gabinete de Carlos Vieira, presidente da Caixa indicado por Arthur Lira

Documentos obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação revelam que a presidência da Caixa Econômica Federal abriga em sua equipe de assessores diretos uma série de nomes ligados ao meio político. A lista, entregue ao jornal Folha de S.Paulo após determinação da Controladoria-Geral da União (CGU), inclui parentes de parlamentares e aliados de figuras influentes no Congresso, além de pessoas com vínculos pessoais com membros do Judiciário.

O presidente da Caixa, Carlos Vieira, emprega como assessores a filha de um deputado federal do Centrão, o irmão de um prefeito, a ex-mulher de um ministro do Supremo Tribunal Federal e um advogado que atua na defesa de Arthur Lira (PP-AL), seu padrinho político e presidente da Câmara dos Deputados. Vieira foi indicado ao cargo por Lira no fim de 2023, e desde então os postos estratégicos da instituição vêm sendo distribuídos entre partidos como PP, Republicanos e PL.

A lista obtida inclui 15 assessores que não fazem parte do quadro de servidores da Caixa. A estatal levou mais de quatro meses para divulgar os dados, alegando riscos à segurança dos assessores e prejuízos concorrenciais, mas a CGU rejeitou os argumentos, ressaltando a importância da transparência na gestão de cargos estratégicos em empresas públicas. Segundo funcionários, os consultores recebem salários próximos de R$ 40 mil mensais.

Entre os nomes revelados está Maria Socorro Mendonça Carvalho Marques, ex-esposa do ministro Kassio Nunes Marques. Economista com passagem por gabinetes do Senado, ela foi nomeada assessora em dezembro de 2023, pouco mais de um mês após a posse de Vieira. Outra indicada é Mayara Santiago, filha do deputado Wilson Santiago (Republicanos-PB), que assumiu o cargo em 11 de dezembro do mesmo ano.

Também integra o grupo João Antônio Holanda Caldas, irmão do prefeito de Maceió, JHC (PL), e filho da senadora Dra. Eudócia (PL-AL). Ex-deputado federal por breve período, ele foi nomeado em fevereiro de 2024. A Caixa justificou sua contratação pelo “acompanhamento do cenário político e legislativo” exigido pela função.

A relação ainda inclui o advogado Luiz Maurício Carvalho e Silva, que representa Arthur Lira em disputas judiciais e já defendeu sua mãe em outro processo. Ele ocupa o cargo desde setembro de 2024.

O caráter político das nomeações se refletiu em decisões recentes do banco. Após a derrota do governo na Câmara na votação da medida provisória que aumentaria impostos, a Caixa demitiu dois aliados importantes: José Trabulo Junior, indicado por Ciro Nogueira (PP), e Rodrigo de Lemos Lopes, ligado ao deputado Altineu Côrtes (PL-RJ). As demissões ocorreram após pressão do Planalto e sinalizaram ajustes nas alianças internas.

Vieira e a Caixa sustentam que todas as contratações seguem normas internas de governança, compliance e integridade. A instituição afirma adotar mecanismos para evitar conflitos de interesse e garantir que as nomeações estejam em conformidade com os valores da organização.

A revelação dos nomes reacende o debate sobre a influência política nas estatais, especialmente em um ano em que o governo tenta fortalecer sua base no Congresso e se preparar para as eleições presidenciais de 2026. A presença de assessores ligados diretamente a figuras do Legislativo e a vínculos pessoais com integrantes do Judiciário reforça a percepção de que a Caixa segue sendo um dos principais instrumentos de articulação política do governo federal.

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