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Governo pressiona Caixa para viabilizar empréstimo de R$ 20 bilhões aos Correios

Com risco de falta de recursos para o 13º, Executivo analisa empréstimo e até crédito extraordinário

A discussão sobre o socorro financeiro aos Correios ganhou novos contornos nas últimas semanas e passou a envolver diretamente a Caixa Econômica Federal, acionada pelo governo para viabilizar o empréstimo de R$ 20 bilhões destinado à estatal. A movimentação ocorre depois de o Tesouro Nacional rejeitar a proposta apresentada por um consórcio formado por cinco bancos, entre eles o Banco do Brasil, devido ao custo considerado elevado para uma operação com garantia da União.

O tema se tornou prioritário dentro do Executivo porque a companhia pode não conseguir arcar com a segunda parcela do 13º salário, prevista para 20 de dezembro. A avaliação interna é de que uma solução precisa ser formalizada até essa data para preservar o fluxo de pagamentos e garantir o funcionamento da estatal no período de maior demanda logística do ano. Técnicos envolvidos na análise afirmam que diferentes alternativas continuam em estudo, inclusive a abertura de um crédito extraordinário para disponibilizar recursos de forma imediata.

A possibilidade foi mencionada em reunião da Junta de Execução Orçamentária nesta quinta-feira, mas não há decisão tomada. Esse instrumento permite liberar recursos fora dos limites do arcabouço, desde que haja comprovação de urgência e imprevisibilidade. No entanto, parte da equipe econômica vê dificuldade em sustentar o caráter imprevisível da situação, já que os Correios acumulam prejuízos desde 2022 e vêm sinalizando necessidade de aporte desde meados deste ano.

Enquanto isso, o governo articulou a entrada da Caixa no processo. A instituição participou das conversas iniciais, mas não havia apresentado propostas nas rodadas anteriores por demonstrar reservas à operação. Depois de indicações do Ministério da Fazenda e da intervenção da Casa Civil, o banco passou a se mostrar disposto a participar, desde que o empréstimo respeite os parâmetros considerados adequados pelo Tesouro —o que significa juros entre 118% e 120% do CDI. A taxa cobrada anteriormente pelo grupo de bancos privados ultrapassava 136% do CDI, algo próximo de 20% ao ano, patamar considerado excessivo pelo governo diante da garantia soberana.

Integrantes do Executivo criticaram o Banco do Brasil por ter aceitado a proposta do consórcio de bancos privados e indicam que o governo busca alinhar expectativas com todas as instituições envolvidas. A avaliação é que a Caixa, por manter ligação direta com o Ministério da Fazenda, não poderia ficar de fora da operação se as condições definidas pelo Tesouro forem respeitadas.

Além do pagamento do 13º salário, os Correios também precisam saldar a folha de pessoal no dia 30 de dezembro. Em meio à necessidade de recursos, há preocupação com a manutenção da qualidade operacional durante o período natalino, quando a demanda por entregas aumenta e eventuais atrasos poderiam comprometer contratos e a relação com clientes.

O debate sobre possível aporte do Tesouro permanece aberto, embora limitado pelo calendário orçamentário. O rito tradicional exigiria o envio de um projeto ao Congresso para abertura de crédito especial, mas o prazo para essa solicitação expirou em 29 de novembro, conforme a Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2025. Alterar a data exigiria aprovar uma nova lei e, posteriormente, enviar o pedido de crédito —um processo que, segundo técnicos do governo, não teria tempo hábil para ser concluído.

A deterioração financeira da estatal compõe o pano de fundo da discussão. Os Correios registraram prejuízo acumulado de R$ 6,1 bilhões até setembro e estimam necessidade de R$ 20 bilhões até 2026 para executar seu plano de reestruturação. O programa prevê regularização de dívidas com fornecedores e bancos, um novo plano de demissão voluntária para reduzir o quadro em pelo menos 10 mil funcionários e a revisão da estrutura de cargos, salários e benefícios, incluindo o plano de saúde da empresa.

Com a aproximação das datas críticas de pagamento e a combinação de riscos operacionais e orçamentários, o governo intensifica as negociações para garantir uma solução que permita à estatal atravessar o fim do ano e iniciar a reestruturação planejada.

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