O desempenho da indústria da construção em agosto de 2025 registrou o pior resultado para o mês em quase uma década. Segundo dados divulgados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o índice de evolução do nível de atividade caiu 3,5 pontos em relação a julho, alcançando 46 pontos — menor marca para agosto desde 2016.
O setor vem sendo pressionado pelo encarecimento do crédito e pela perda de fôlego da demanda, ambos efeitos da taxa básica de juros em patamar elevado. Para o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo, “a elevação da taxa de juros vem trazendo, progressivamente, problemas para a indústria da construção, tanto pelo encarecimento do crédito para investimentos quanto pela perda de ritmo da demanda”.
O mercado de trabalho também sentiu os impactos. O índice de evolução do número de empregados caiu 3,8 pontos, para 46,3 pontos, o menor patamar para agosto desde 2018. A Utilização da Capacidade Operacional (UCO) recuou dois pontos percentuais, para 66%, ficando abaixo do observado em igual mês dos últimos três anos.
Apesar do cenário desafiador, os empresários demonstraram ligeira melhora no sentimento em setembro. O Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) da Construção subiu 1,2 ponto, alcançando 47 pontos. Embora permaneça abaixo da linha de 50 pontos, que separa otimismo de pessimismo, o movimento indica redução da percepção negativa em relação ao futuro.
A melhora foi puxada principalmente pelo índice de expectativas, que avançou 1,7 ponto e chegou a 48,9 pontos, revertendo parte da queda registrada em agosto. Os empresários se mostram mais confiantes no desempenho de suas próprias companhias nos próximos seis meses, embora ainda vejam o ambiente econômico nacional com cautela. Já o índice de condições atuais variou pouco, 0,2 ponto, para 43,2 pontos, refletindo que a avaliação sobre o presente segue negativa.
Outro dado relevante foi o aumento da intenção de investimento. O indicador que mede essa propensão avançou 1,1 ponto, para 41,1 pontos, interrompendo uma sequência de três quedas consecutivas. Ainda assim, o resultado apenas compensa parte da retração acumulada recentemente.
Em contrapartida, as expectativas para compras de insumos e novos projetos recuaram. O índice de expectativa de aquisição de matérias-primas caiu 0,4 ponto, para 49,4 pontos, sinalizando pessimismo maior no abastecimento. Já o de novos empreendimentos e serviços caiu 0,9 ponto, de 50,1 para 49,2 pontos, apontando possível retração na geração de novos negócios.
O índice de expectativa para número de empregados cedeu 0,6 ponto, ficando em 50,2 pontos — próximo da linha de estabilidade, indicando que não deve haver expansão relevante do emprego no curto prazo. Já o indicador de expectativa de nível de atividade recuou 0,7 ponto, mas se manteve em 50,7 pontos, sugerindo uma leve perspectiva de melhora no horizonte de seis meses.
A sondagem da CNI e da CBIC ouviu 298 empresas entre 1º e 10 de setembro, sendo 122 de pequeno porte, 118 médias e 58 grandes. O levantamento mostra um setor pressionado pelos juros altos e pela demanda enfraquecida, mas ainda com sinais tímidos de confiança para os próximos meses.