O mercado financeiro começou a identificar sinais mais claros de saída de dólares do país ainda antes de os ruídos eleitorais envolvendo a pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro ganharem força. Na sexta-feira, relatos de remessas mais intensas de dividendos ao exterior circularam entre operadores, e o câmbio passou a refletir esse movimento logo nas primeiras horas do pregão.
O dólar abriu em queda, mas rapidamente se distanciou do comportamento de outras divisas emergentes e consolidou alta frente ao real mesmo antes de a agenda política dominar as atenções. Após o chamado “efeito Flávio”, a pressão aumentou e a moeda americana, que havia iniciado o dia a R$ 5,30, chegou a tocar R$ 5,48 durante a tarde.
Segundo um gestor de moedas, o dia marcou o início efetivo das saídas relacionadas ao pagamento de dividendos. A XP Investimentos estruturou um monitor diário para acompanhar o potencial de remessas e estima que R$ 56,3 bilhões em dividendos extraordinários e juros sobre capital próprio foram anunciados desde o fim de outubro. A corretora calcula que 65% desse volume pertence a investidores estrangeiros, com potencial de envio ao exterior, sendo R$ 22,9 bilhões programados para pagamento ainda em dezembro.
Para Tiago Berriel, estrategista-chefe da BTG Pactual Asset Management, há apreensão no mercado quanto ao impacto das mudanças tributárias sobre o fluxo cambial no curto prazo. Ele lembra que a legislação recebeu uma extensão de prazo no Senado que tende a mitigar parte dos efeitos, mas reconhece que a incerteza pode antecipar decisões de remessa. Em sua avaliação, o período exige monitoramento, embora não veja, no momento, sinais de que isso se transforme em uma fonte relevante de volatilidade, já que os fundamentos não indicam deterioração fiscal ou mudanças bruscas na política monetária.
Algumas gestoras já vinham adotando posição mais cautelosa desde outubro. A Occam mantém uma posição vendida em real contra o peso chileno, estratégia baseada na perspectiva de fluxo cambial desafiador no fim de 2025. Fernando Chibante, gestor da casa, observa que o movimento negativo já soma US$ 7 bilhões no último mês e tende a permanecer sob escrutínio em dezembro, tradicionalmente um período marcado por remessas mais expressivas.
O profissional lembra que a combinação de remessas e incertezas regulatórias adiciona um novo elemento de risco ao mês, comparando o cenário ao de dezembro de 2024, quando houve saída recorde de US$ 26,4 bilhões e forte intervenção do Banco Central, de US$ 21,6 bilhões. Ele afirma que o atual ambiente exige atenção redobrada e reforça sua aposta na desvalorização do real frente ao peso chileno, apesar do carry menos favorável derivado do diferencial de juros.









