Mercado prevê aceleração na alta da Selic para 0,75 ponto percentual em dezembro
O Banco Central (BC) poderá adotar uma postura mais agressiva na condução da política monetária, com possibilidade de elevar a Selic em 0,75 ponto percentual

O Banco Central (BC) poderá adotar uma postura mais agressiva na condução da política monetária, com possibilidade de elevar a Selic em 0,75 ponto percentual na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), em dezembro. Essa expectativa ganhou força no mercado, diante da persistente desancoragem das expectativas de inflação e dos desafios fiscais do governo.

Alta mais acelerada para combater desancoragem inflacionária

A taxa Selic foi elevada para 11,25% ao ano neste mês, com um aumento de 0,5 ponto percentual, mas economistas apontam que o BC pode intensificar o ritmo do aperto monetário. Segundo Caio Megale, economista-chefe da XP, o ambiente de piora das expectativas inflacionárias e o risco de perda de credibilidade podem exigir uma ação mais contundente.

— Se faz sentido um ciclo de alta maior, faz sentido acelerar o ritmo. O BC precisa agir para manter o controle da discussão no mercado e sinalizar urgência — afirma Megale, que vê a Selic atingindo 13,25% no cenário-base e 13,75% em um cenário mais adverso.

Inflação e expectativas em deterioração

O Relatório Focus, que compila as expectativas do mercado, registrou sete semanas consecutivas de alta nas projeções para o IPCA em 2024, com as estimativas para 2025 também avançando. A mediana do mercado aponta para uma Selic de 12% ao fim de 2024, acima dos 11,5% previstos anteriormente.

Esse cenário reflete a desvalorização do câmbio doméstico, a pressão nos preços de bens e serviços e as incertezas sobre o compromisso fiscal do governo.

— O BC não pode depender apenas do ajuste fiscal. Mesmo com cortes de gastos, o quadro atual exige aceleração no ritmo da Selic — alerta Gabriel Leal de Barros, economista-chefe da ARX Investimentos, que projeta uma taxa de 13,5% ao fim do ciclo.

Ajuste fiscal e desafios do governo

O mercado aguarda detalhes sobre o pacote fiscal do governo, mas mantém ceticismo quanto à capacidade de implementação. Leal de Barros aponta que, mesmo com cortes prometidos de R$ 25,9 bilhões em despesas, o Congresso pode desidratar o plano.

Megale também destaca que, mesmo com um ajuste fiscal robusto, o crescimento das despesas ainda mantém o cenário fiscal expansionista, o que pode limitar o espaço para cortes de juros no futuro próximo.

Projeções de outras instituições financeiras

O Itaú Unibanco revisou suas expectativas para a Selic, projetando uma taxa de 13,5% em 2025, com aceleração do ritmo para 0,75 ponto percentual na reunião de dezembro. Já os economistas do Daycoval, Rafael Cardoso e Julio Cesar Barros, preveem um ciclo com duas altas de 0,75 ponto seguidas por um ajuste final de 0,5 ponto, levando a Selic a 13,25%.

Apesar de reconhecer a possibilidade de ajustes no ritmo, o Itaú ressalta que uma redução do prêmio de risco, combinada com cortes de gastos mais ambiciosos, poderia permitir a retomada de cortes na Selic apenas a partir de 2025.

Cenário externo e impacto no Brasil

A reeleição de Donald Trump nos Estados Unidos trouxe novos desafios para as economias emergentes. A expectativa de juros mais elevados pelo Federal Reserve (Fed) e políticas inflacionárias ampliam o prêmio de risco global, impactando diretamente as condições financeiras brasileiras.

— A eleição de Trump deixa o juro terminal mais alto por conta do prêmio de risco maior. Não é uma relação mecânica, mas pressiona nossa política monetária — pontua Leal de Barros.

redacao
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