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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quarta-feira (5) que os efeitos do atual ciclo de elevação da taxa Selic sobre a inflação devem ser sentidos de forma mais rápida do que o esperado. Segundo ele, o impacto do aumento dos juros, que já acumula uma alta de 2 pontos percentuais desde dezembro, elevando a Selic para 13,25% ao ano, tende a acelerar o processo de acomodação dos preços. “O choque de juros foi muito forte, então a resposta [sobre a inflação] virá mais rapidamente, e penso que poderemos ter uma acomodação mais rápida [dos preços]”, declarou em entrevista à GloboNews.
Apesar do Banco Central (BC) ter sinalizado um novo aumento de 1 ponto percentual para março, o Comitê de Política Monetária (Copom) indicou, em sua última ata, que a inflação deve ultrapassar o teto da meta até junho, o que obrigará o presidente do BC, Gabriel Galípolo, a apresentar uma carta pública explicando o descumprimento. Haddad minimizou o impacto dessa exigência, destacando que a tendência é de que as projeções mostrem uma trajetória de convergência da inflação para a meta ainda neste ano. “Ainda que em junho eles tenham que escrever uma carta, o horizonte do Banco Central já estará diferenciado”, afirmou.
Câmbio e política fiscal
O ministro também comentou sobre suas declarações anteriores a respeito da cotação do dólar, quando afirmou que a moeda estava "cara" acima de R$ 5,70. Haddad reconheceu que "não deveria nem ter falado" sobre o assunto, explicando que o comentário foi feito no calor do debate e que o câmbio flutuante é o mecanismo adequado para lidar com choques externos. “Levando em consideração os fundamentos da economia brasileira, o dólar tinha descolado de seu patamar de longo prazo”, disse.
Em relação ao projeto de lei que isenta do Imposto de Renda (IR) quem ganha até R$ 5 mil, o ministro mencionou que o texto poderá passar por ajustes antes de ser enviado ao Congresso, com contribuições da Advocacia-Geral da União (AGU) e de outros ministérios.
Gestão de despesas e desafios orçamentários
Haddad defendeu a importância de revisar periodicamente as despesas públicas e os gastos tributários, destacando a necessidade de ajustar o orçamento federal de forma contínua. Ele citou, como exemplo, a proposta de alteração na idade mínima para aposentadoria de militares, defendendo a medida como uma forma de abrir espaço para discussões sobre outras despesas federais.
O ministro admitiu que a gestão orçamentária será desafiadora até o final do atual mandato do presidente Lula, destacando que a organização das finanças públicas exige um esforço contínuo. “Colocar ordem na rubrica A, B ou C é extenuante”, disse, acrescentando que espera que a maioria das pautas de interesse da Fazenda seja concluída até o final de 2025.
Supersalários e relações com o Congresso
Sobre o debate em torno dos chamados “supersalários” do funcionalismo público, Haddad revelou ter estabelecido um entendimento com o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), para avançar com o tema. Ele também mencionou encontros com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e uma reunião programada com senadores na próxima semana. O ministro destacou que, embora existam pagamentos indenizatórios legítimos, há distorções que precisam ser corrigidas.
Críticas de Kassab e apoio político
Haddad comentou ainda sobre a recente declaração do presidente do PSD, Gilberto Kassab, que o classificou como um ministro “fraco”. O titular da Fazenda afirmou ter recebido ligações de apoio de membros do PSD e de outros parlamentares após as críticas. “Não sei o que se passou. O PSD é um partido da base do governo”, disse. Ele reforçou que não pretende alimentar polêmicas e destacou as entregas de sua gestão, como a aprovação da reforma tributária. “As entregas que fizemos em dois anos, vejo poucos paralelos em outros governos”, concluiu. O ministro também destacou o apoio do presidente Lula, que recentemente o classificou como “um ministro extraordinário”.