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A economia brasileira registrou um crescimento sólido de 3,4% em 2024, mas mostrou sinais de desaceleração no último trimestre do ano. Os dados, divulgados nesta sexta-feira (7) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), confirmam um desempenho positivo, mas dentro das expectativas do mercado. As projeções indicavam uma alta entre 3,3% e 3,6%, com mediana de 3,5%.
O quarto trimestre apresentou um crescimento de apenas 0,2% em relação ao período anterior, uma desaceleração em comparação com os 0,7% registrados entre julho e setembro. O resultado ficou abaixo da mediana das previsões, que era de 0,4%, mas dentro do intervalo esperado, que variava de 0,2% a 0,8%. O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, atribui parte dessa perda de fôlego ao cenário internacional, incluindo a vitória de Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos e as expectativas sobre suas políticas protecionistas. Esse fator, aliado ao pacote fiscal considerado tímido pelo governo brasileiro, impactou a confiança dos investidores.
A trajetória da economia brasileira em 2024 seguiu um padrão semelhante ao dos anos anteriores, superando as previsões iniciais. No começo do ano passado, as projeções apontavam um crescimento de apenas 2%. Esse desempenho acima do esperado foi impulsionado por estímulos fiscais, como o pagamento de precatórios e o aumento real do salário mínimo, além do impacto positivo da queda na taxa de juros ao longo do ano.
No lado da oferta, o setor industrial cresceu 3,3%, enquanto os serviços avançaram 3,7%. A agropecuária, por outro lado, recuou 3,2%, impactada por fatores climáticos e oscilações nos preços das commodities. Pela ótica da demanda, o consumo das famílias teve um crescimento expressivo de 4,8%, refletindo a recuperação do poder de compra da população. Os investimentos, medidos pela formação bruta de capital fixo, subiram 7,3%, e o consumo do governo cresceu 1,9%. No comércio exterior, as importações (14,7%) cresceram em um ritmo muito superior ao das exportações (2,9%), o que reduziu a contribuição do setor externo para o crescimento econômico.
A taxa de investimento fechou o ano em 17% do PIB, superando os 16,4% registrados em 2023. Já a taxa de poupança caiu para 14,5%, ante 15% no ano anterior, refletindo um aumento no consumo e uma menor capacidade de acúmulo de reservas pela população.
Para 2025, os economistas preveem um primeiro semestre ainda positivo, mas com perda de fôlego na segunda metade do ano. A projeção do mercado, segundo o relatório Focus do Banco Central, aponta um crescimento de 2,01% para o PIB neste ano. O principal fator de desaceleração será o impacto da política monetária. Com a inflação ainda fora da meta, o Banco Central elevou a taxa básica de juros para 13,25% ao ano, e a expectativa é que a Selic chegue a 15% até o final de 2025. Isso tende a encarecer o crédito e reduzir o consumo e os investimentos.
O cenário externo também deve representar desafios. As tarifas de importação impostas pelo governo dos Estados Unidos podem afetar as exportações brasileiras, e há incertezas sobre o ritmo de crescimento da economia chinesa, um dos principais parceiros comerciais do Brasil.
Por outro lado, a expectativa de uma safra recorde pode amenizar os impactos negativos. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a produção de grãos alcance 325,71 milhões de toneladas, um crescimento de 9,4% em relação ao ciclo anterior.
Uma das dúvidas para este ano é se o governo adotará medidas para estimular a economia, especialmente considerando o impacto político da desaceleração antes das eleições presidenciais de 2026. Uma das iniciativas já anunciadas é a liberação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para trabalhadores que aderiram à modalidade de saque-aniversário, o que pode injetar até R$ 12 bilhões na economia.
O economista Sergio Vale alerta que o governo já demonstra preocupação com a desaceleração econômica e pode adotar novas medidas para impulsionar a atividade. "O governo já não está aceitando a desaceleração. Tudo o que tem feito até agora pressiona a economia. O que ele está sinalizando é bastante ruim do ponto de vista da mensagem que precisa passar", afirma.