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A Intenção de Consumo das Famílias (ICF) registrou um aumento de 0,2% em janeiro, alcançando 104,9 pontos, segundo pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O avanço foi impulsionado principalmente pelo consumo de bens duráveis, que apresentou sua segunda alta consecutiva. O resultado acompanha a tendência de crescimento observada em dezembro de 2024, mas ainda indica uma queda de 0,9% na comparação anual com janeiro do ano passado.
Os dados apontam que as famílias de maior renda estão mais cautelosas no consumo, enquanto aquelas de menor renda demonstram maior disposição para comprar. Enquanto os consumidores com rendimento acima de 10 salários mínimos registraram retração de 0,2%, os que recebem menos tiveram um avanço de 0,3% na intenção de consumo.
Já no recorte por gênero, as mulheres demonstram mais pessimismo do que os homens, devido às dificuldades no acesso ao crédito e à insegurança quanto às perspectivas profissionais. A intenção de consumo caiu 1,4% entre o público feminino, enquanto entre os homens a queda foi de 0,4%.
“O consumo das famílias brasileiras tem um papel estratégico no fortalecimento da economia. Os desafios existem, mas o potencial de crescimento do comércio de bens e serviços é inegável e precisa ser fomentado”, afirma José Roberto Tadros, presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac.
Acesso ao crédito segue como obstáculo ao consumo
A pesquisa da ICF entrevistou 18 mil brasileiros e analisou sete indicadores que medem a satisfação do consumidor. A maioria dos componentes registrou alta, com exceção dos indicadores de Emprego Atual, Renda Atual e Acesso ao Crédito.
O acesso ao crédito apresentou a maior retração, com queda de 0,8%, refletindo o impacto dos juros elevados sobre o consumo. Em contraste, a percepção dos consumidores sobre o Momento para o Consumo de Bens Duráveis avançou 1,0%, evidenciando uma maior propensão a compras de maior valor.
“O crédito continua sendo um fator crítico para o comércio. O aumento dos juros restringe o consumo, tornando as condições de financiamento mais difíceis. Para compensar esse cenário, comerciantes têm apostado em ofertas de prazos mais longos e descontos especiais para incentivar as compras de bens de maior valor agregado”, explica João Marcelo Costa, economista da CNC.
Mercado de trabalho mantém confiança, mas desigualdade de gênero persiste
Apesar de uma leve queda de 0,3% no subindicador de Emprego Atual, ele continua sendo o item mais bem avaliado da ICF, atingindo 126,3 pontos. O resultado demonstra que os consumidores seguem confiantes no mercado de trabalho, mesmo diante da desaceleração na geração de empregos formais.
Já a Perspectiva Profissional teve alta de 0,3%, indicando otimismo das famílias em relação à economia nos próximos meses.
Entretanto, a pesquisa apontou uma diferença significativa entre os gêneros na satisfação com o mercado de trabalho. A Perspectiva Profissional das mulheres caiu 4,1%, enquanto entre os homens a queda foi menor, de 2%.
“A diferença pode estar ligada a fatores estruturais do mercado de trabalho e ao papel das mulheres na economia doméstica. Historicamente, elas enfrentam desafios adicionais, o que intensifica a cautela em momentos de incerteza econômica”, avalia Costa. O economista destaca ainda que muitas famílias brasileiras têm as mulheres como principais provedoras, o que justifica uma postura mais prudente diante do atual cenário econômico.