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A pandemia de coronavírus obrigou Portugal a acelerar a transição digital das empresas e revelou um problema: não há profissionais suficientes para preencher as vagas qualificadas que se multiplicam no setor de Tecnologia da Informação (TI).
Especialistas, companhias de recrutamento e relatório consultados pelo Portugal Giro confirmam o aumento da demanda na pandemia, causado pela explosão dos serviços digitais desde a primeira quarentena, há um ano. E indicam lacuna entre 15 mil e 20 mil profissionais.
Os formados pelas universidades portuguesas anualmente não chegariam a 2 mil, 10% da demanda. Muitos deixam o país em busca de melhores oportunidades. Assim, empresas nacionais e estrangeiras instaladas no país recrutam no mercado internacional para amenizar a defasagem e preparar Portugal para receber os € 2,9 bilhões do plano de recuperação da União Europeia destinados à transição digital da economia.
- Engenheiros formados em nossas faculdades não são suficientes. Só este mês, precisamos de 90 e não chegamos a 30. As empresas estão abertas ao recrutamento internacional, incluindo o Brasil. Há empresas, como a Farfetch (e-commerce de luxo), e outras quatro ou cinco gigantes, com esta reputação de recrutamento - explicou ao Portugal Giro Sofia Soares, gerente de TI na multinacional de recrutamento Michael Page.
Os vistos para empregos tecnológicos concedidos a brasileiros (Visa Tech) aumentaram 420% desde julho de 2019. Eram 284 e chegaram a 1.482 (a maioria entre o total de 1.841). Não entram neste levantamento os emigrantes com cidadania portuguesa/europeia ou outro tipo de autorização de residência e que estão contratados.
- Problema é que a burocracia tem demorado na pandemia, então a solução não é imediata. Um engenheiro que venha do Brasil pode demorar de três a nove meses para efetivar questões de contrato e visto. Mesmo com o trabalho remoto, cada vez mais um hábito, está complicado recrutar na área de TI e não conseguimos preencher as posições que os clientes pedem - completou Soares.
Com espaço aéreo fechado, mas liberado para decolagens essenciais, inclusive de trabalho, um brasileiro pode embarcar em um voo extra para Portugal, caso tenha o dossiê de contratação finalizado pela empresa junto aos órgãos de governo. Para contornar burocracia, a EVP Connect, de recrutamento e consultoria, inicia as atividades com o funcionário ainda em solo brasileiro.
-Chamamos de início remoto e preenchemos 24 vagas remotas na pandemia. Longe das 180 de desenvolvimento que tenho para preencher este mês. Diria que faltam entre 15 mil a 20 mil profissionais em Portugal e por isso as empresas buscam consultoria na contratação. Nossa base recebeu este ano 500 currículos, 90% de TI. Não falta este tipo de trabalho em Portugal - disse o brasileiro Diego Fernandes, gerente de negócios da EVP.
Especializada em recolocação profissional, a brasileira Cláudia Pinheiro vive em Portugal e traça o perfil desejado pelas empresas de quase todos os setores que tiveram que ampliar a oferta digital. Apesar de alguns especialistas apontarem para um déficit de até 75 mil profissionais, ela acha o número exagerado.
-Entre os mais procurados estão os Programadores/Developers, Web Developer e Mobile Developer, com perfil sênior e especialistas, com expertise em Java, PHP, .Net, Python, BI, Javascript, e outras linguagens. Profissionais especialistas em Cibersecurity, Gestor de Projetos e Data Scientist. Experiência (+ 3 anos), inglês fluente é obrigatório, certificações são diferencial, assim como francês (requisito cada vez mais comum) e outros idiomas - disse Pinheiro.
O braço português da Natixis, de investimentos, seguros e serviços financeiros, tem 800 funcionários e 10% (80) são brasileiros. São 19 nacionalidades diferentes e o Brasil lidera entre os estrangeiros: 85% portugueses, 10% brasileiros, 2% franceses e 3% outras, informa a assessoria de imprensa.
"Durante o período de pandemia, a Natixis continuou a recrutar perfis brasileiros, sobretudo da área de TI, mas recruta também para atividade de Banking Support Activities. No futuro, quer continuar a apostar no recrutamento internacional, não só para TI mas também de suporte à área bancária", diz a nota.
O Estudo de Remuneração para o setor este ano, da Michael Page, indica não só aumento da procura em Portugal, mas uma batalha pelos mais qualificados, que podem receber um salário bruto anual entre € 49 mil e € 100 mil, em Lisboa, e € 50 mil e € 95 mil no Porto.
"Tipicamente, o mercado de TI é marcado pela verdadeira guerra pelo talento, por isso os salários são mais elevados comparativamente a outras áreas menos procuradas", diz o relatório.
No cenário mundial, a caça por estes profissionais aumentou em 20%.
(Gian Amato)