O mercado secundário de títulos privados, como debêntures, CRIs e CRAs, vive um momento de forte expansão e atrai o interesse de empresas de infraestrutura do mercado de capitais que querem garantir posição nesse segmento. Nos primeiros seis meses de 2025, o volume negociado apenas em debêntures atingiu R$ 410,1 bilhões, alta de 22,6% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo dados da Anbima. O número representa mais que o dobro do volume captado no mercado primário, que somou R$ 192,7 bilhões no mesmo intervalo.
A expectativa é que esse movimento ganhe ainda mais força com a entrada em vigor, em 2026, do Regime Fácil da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que vai permitir a participação de empresas de menor porte com regras simplificadas. Grandes players como B3, Bee4, CSD BR e SL Tools já se preparam para conquistar fatias desse mercado, oferecendo ambientes para negociação, registro e liquidação de operações.
A B3, por exemplo, relançou em 2024 sua plataforma de renda fixa, agora chamada Trademate, voltada à negociação de títulos públicos e privados. Já a CSD BR recebeu autorização para registrar emissões, custodiar e liquidar debêntures. A SL Tools pretende iniciar em setembro a operação de sua própria plataforma para debêntures, CRAs e CRIs depositados na B3, mas com a proposta de competir pelo investidor oferecendo um ambiente de negociação alternativo. A Bee4, inicialmente voltada para pequenas empresas na emissão de ações, também se prepara para negociar debêntures e notas comerciais, de olho no potencial de um mercado que, segundo a CEO Patricia Stille, movimenta pelo menos R$ 2 trilhões em demanda por renda fixa privada.
O desafio, porém, vai além da tecnologia. Diferente das ações, negociadas em um livro de ofertas centralizado e padronizado, os títulos de crédito privado operam no chamado mercado de balcão, com transações privadas e sem publicidade de preços. A proposta das novas plataformas é concentrar parte dessas negociações em um único ambiente, com ordens expostas e execução pelo melhor preço, replicando modelos internacionais.
Para Luiz Masagão, vice-presidente de produtos e clientes da B3, o principal obstáculo é cultural. Ele reconhece que não é realista esperar que todos os participantes migrem para a tela de negociação, mas acredita que ao menos os papéis mais líquidos possam ganhar espaço. A estratégia da Bolsa envolve atrair gestores, que podem induzir vendedores a divulgar preços, além de adotar medidas como contratação de market makers e maior transparência na divulgação de cotações.
Nos Estados Unidos, referência nesse segmento, cerca de metade das negociações de títulos privados ocorre em telas, enquanto o restante segue no modelo bilateral. É esse formato que Masagão vê como opção viável para ampliar a adesão no Brasil, enviando ordens de compra a vendedores específicos e executando na própria plataforma.
Com o Regime Fácil, a partir de janeiro de 2026, empresas com faturamento anual entre R$ 5 milhões e R$ 500 milhões poderão emitir ações e títulos de renda fixa de até R$ 300 milhões com menos burocracia, abrindo espaço para novas captações e ampliando o leque de investidores. Para as empresas de infraestrutura do mercado de capitais, o momento é de posicionamento: a corrida já começou, e quem conquistar liquidez e confiança dos agentes poderá se consolidar como referência em um setor que, mesmo com juros mais altos, ganhou relevância permanente no portfólio do investidor brasileiro.








