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A persistência de preocupações fiscais no Brasil, não aliviadas pelo pacote de cortes de gastos apresentado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aliada à perspectiva de menores cortes de juros nos Estados Unidos com a volta de Donald Trump à Casa Branca, deve manter investidores estrangeiros afastados do país em 2025. Em 2024, a participação do Brasil em fundos globais já havia caído, refletindo o desinteresse crescente. O peso do Brasil no índice MSCI Emerging Markets recuou para cerca de 4% em dezembro, ante 5,80% no final de 2023, levando o país a ser ultrapassado pela Arábia Saudita, que alcançou a quinta colocação no ranking.
Grandes bancos como JPMorgan, Morgan Stanley e HSBC rebaixaram suas recomendações para ativos brasileiros, citando a deterioração das expectativas fiscais e a falta de sinais claros de recuperação. Alberto Ramos, diretor de Pesquisa Macroeconômica para a América Latina do Goldman Sachs, afirmou que muitos investidores estrangeiros, desiludidos com a economia brasileira, já "jogaram a toalha". Segundo ele, a falta de reformas estruturais e a alta taxa de juros estão entre os principais obstáculos para atrair capital estrangeiro.
Christopher Garman, diretor do Eurasia Group para as Américas, também vê com ceticismo a possibilidade de um retorno significativo de investimentos externos ao Brasil em 2025. A manutenção de juros elevados nos EUA e a incerteza sobre as políticas econômicas do governo Lula contribuem para um ambiente desfavorável. O relatório Focus desta semana indicou que o mercado já projeta a Selic alcançando 15% neste ano, o que reforça o cenário de estagnação na atração de capital estrangeiro.
Para Shamaila Khan, diretora de Mercados Emergentes e Renda Fixa da UBS Asset Management, o Brasil precisa de ações mais contundentes para reconquistar a confiança do investidor. Entre as medidas necessárias, ela destaca o fortalecimento do ajuste fiscal e uma política monetária mais agressiva. No entanto, as recentes iniciativas do governo foram percebidas como insuficientes, agravando a percepção negativa.
Além disso, a saída de bancos internacionais, como o Julius Baer, que vendeu sua operação ao BTG Pactual, reflete o desinteresse estrangeiro. O HSBC também reduziu sua recomendação para ações brasileiras, classificando o país como uma "armadilha clássica de valor".
O impacto é evidente: em 2024, a Bolsa brasileira registrou um fluxo negativo de capital estrangeiro superior a R$ 32 bilhões, o pior desempenho desde 2020. Para muitos analistas, como Garman, o governo enfrenta uma "crise de confiança" tanto internamente, devido à deterioração fiscal, quanto externamente, com o fortalecimento do dólar impulsionado por políticas protecionistas de Trump. Apesar da pressão, as respostas do governo brasileiro têm sido tímidas, reduzindo ainda mais as perspectivas de recuperação no curto prazo.