Brasil termina 2024 com salto positivo na geração de energia limpa
O setor solar foi o principal responsável pelo saldo positivo, impulsionado por isenções fiscais e pelo crescimento da geração distribuída

Os investimentos nas indústrias de energia solar e eólica no Brasil atingiram R$ 77 bilhões em 2024, registrando um crescimento modesto de 2,5% em relação ao ano anterior. O setor solar foi o principal responsável pelo saldo positivo, impulsionado por isenções fiscais e pelo crescimento da geração distribuída (GD), enquanto a energia eólica enfrentou sua pior crise desde sua consolidação no país.

Crescimento da energia solar e impacto da geração distribuída

A energia solar se destacou com a instalação de 14,3 gigawatts (GW) em 2024, um acréscimo de 1,8 GW em relação a 2023. Do total, 8,7 GW vieram de micro e minigeradores, fortalecendo a GD, que permite que consumidores instalem sistemas solares em residências, propriedades rurais ou adquiram cotas de produção de empresas especializadas. Esse modelo cresceu de forma pulverizada, independentemente de grandes investidores ou incentivos governamentais.

Os investimentos no setor solar totalizaram R$ 54,9 bilhões em 2024, um aumento de 30% na comparação anual. No entanto, para 2025, a expectativa é de um volume menor, estimado em R$ 39,4 bilhões, com a instalação de 13,2 GW. Essa redução não significa um esgotamento do potencial do setor, mas reflete a queda nos custos dos equipamentos solares, que exigem menos capital para um mesmo volume de potência instalada.

Atualmente, a energia solar representa 21% da matriz elétrica nacional, consolidando-se como a segunda maior fonte do país, atrás apenas da geração hidrelétrica.

Crise na energia eólica e seus impactos

Enquanto a energia solar cresce, a indústria eólica enfrenta uma forte retração. Em 2024, foram instalados apenas 3,2 GW em 75 novos parques eólicos, uma queda de 1,6 GW em relação a 2023. O setor, que soma 33,6 GW de capacidade instalada em 1.102 parques no Brasil, viu os investimentos caírem cerca de 35% no último ano.

A crise eólica tem origem na queda do Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), referência para os contratos no mercado livre de energia, que despencou a partir de 2022. Esse cenário levou compradores a optarem por contratos de curto prazo, reduzindo a contratação de longo prazo das empresas de energia eólica. Além disso, a rápida expansão da geração distribuída afetou a demanda pelo modelo centralizado.

A redução na demanda refletiu-se no fechamento de fábricas e na demissão de trabalhadores, especialmente no Nordeste, região que concentra os principais parques eólicos do país. De acordo com a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), a recuperação do setor dependerá de um aumento no PLD e da demanda crescente por energia renovável para projetos como data centers e hidrogênio verde. No entanto, os impactos positivos dessas mudanças só devem ser sentidos a partir de 2028.

Outro fator que limita a expansão eólica é a sobreoferta de energia no Nordeste, que em determinados períodos do dia gera mais eletricidade do que o sistema consegue absorver. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) tem restringido a injeção de energia na rede, o que reduz a rentabilidade das usinas eólicas. Esse mecanismo, chamado de curtailment, já motivou ações judiciais por parte das empresas do setor.

Cenário internacional e possível impacto da política americana

A incerteza sobre a política energética dos Estados Unidos, com a possível volta de Donald Trump à presidência, tem gerado especulações sobre impactos no setor de renováveis. No entanto, especialistas acreditam que o Brasil não sofrerá grandes efeitos imediatos, uma vez que o país já atraiu US$ 35 bilhões (R$ 211 bilhões) em investimentos em transição energética em 2023, liderando entre os mercados emergentes fora da China.

Além disso, a cadeia de suprimentos do setor renovável brasileiro é amplamente dependente da China, e não dos Estados Unidos. Equipamentos solares e turbinas eólicas são majoritariamente importados do mercado chinês ou produzidos internamente por empresas chinesas, reduzindo a influência de possíveis mudanças na política americana.

O aumento do dólar frente ao real, por outro lado, pode encarecer as importações de equipamentos fotovoltaicos, já sujeitos a uma tarifa de 25% imposta pelo governo federal. Apesar disso, analistas apontam que a tensão comercial entre EUA e China pode beneficiar o Brasil, tornando o país um destino mais atrativo para investimentos externos.

Perspectivas para o setor

A energia solar segue como a grande aposta da matriz energética brasileira, mas o setor eólico enfrenta desafios significativos que devem persistir nos próximos anos. A retomada da indústria eólica dependerá da valorização do PLD, da reorganização do mercado livre de energia e do aumento da demanda para novos projetos industriais.

Enquanto isso, o Brasil continua se consolidando como um dos principais destinos globais para investimentos em energia renovável, atraindo bilhões de dólares para a transição energética. O avanço da solar e a necessidade de recuperação da eólica definirão os rumos do setor nos próximos anos, em um cenário de crescimento sustentável e adaptação às novas demandas do mercado.

redacao
Conta Oficial Verificada