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A recente deterioração dos preços dos ativos brasileiros e a promessa do Banco Central de elevar a Selic para pelo menos 14,25% até março levaram a taxa de juros real ex-ante a um dos maiores níveis desde 2008, alcançando 9,52% na última sexta-feira. Este movimento reflete um cenário macroeconômico pressionado, com mercado precificando uma política monetária ainda mais rígida. Segundo uma pesquisa com 95 instituições financeiras realizada pelo Valor, a mediana das projeções aponta para uma Selic de 15% no final do ciclo de alta em 2025, com algumas estimativas chegando a 15,5%.
O Santander revisou suas projeções e agora espera que o dólar permaneça na faixa de R$ 6, elevando a inflação estimada para 5,5% no próximo ano. Marco Antonio Caruso, economista da instituição, avalia que o Banco Central, fiel ao seu guidance, deve elevar a Selic em três etapas: 14,25% em março, 15% em maio e, finalmente, 15,5% em junho. Segundo Caruso, o impacto desse aperto será sentido principalmente no segundo semestre, com uma forte desaceleração da economia e crescimento do PIB projetado em apenas 1,8% para o ano.
O J.P. Morgan também revisou suas expectativas, prevendo uma Selic de 15,25% ao final do ciclo. Cassiane Fernandez, economista-chefe para o Brasil, destaca que a desvalorização do real e o aumento dos juros de mercado têm efeitos diretos sobre a economia. "Cada 10% de depreciação do câmbio adiciona cerca de 0,6 ponto percentual ao IPCA ao longo de um ano", afirma. Este cenário agrava ainda mais as expectativas inflacionárias, já pressionadas pelo crescimento econômico acima do potencial.
Além disso, Fernandez ressalta que o aperto financeiro pode ter um efeito mais decisivo no médio prazo, ajudando a esfriar a economia e reduzir a inflação. "Revisamos nossa previsão de inflação para 2026, reduzindo de 3,5% para 3,2%, mais próxima do centro da meta, mas o impacto dependerá fortemente das políticas fiscais e da dinâmica cambial", acrescenta.
O impacto do aperto monetário é agravado pela desaceleração esperada no crédito e pelo enfraquecimento do impulso fiscal. Segundo Caruso, as famílias ainda estão endividadas, e mudanças regulatórias no Conselho Monetário Nacional podem restringir ainda mais o crédito disponível.
Enquanto isso, o Banco Central mantém um tom hawkish, determinado a conter as expectativas inflacionárias e estabilizar a economia no médio prazo. No entanto, o cenário permanece desafiador, com incertezas externas e riscos significativos para economias emergentes como o Brasil. As decisões futuras do BC e do governo federal serão cruciais para definir o rumo da economia nos próximos anos.