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O Banco Mundial, por meio de seu diretor no Brasil, Johannes Zutt, realizou uma análise abrangente sobre os desafios econômicos do país em 2025, destacando os esforços necessários para estabilizar a economia, controlar a inflação e impulsionar o crescimento. Entre os temas abordados estão a política monetária, a rigidez fiscal e a recém-aprovada reforma tributária sobre consumo, que promete modernizar o sistema tributário nacional.
Aperto monetário e controle da inflação
A decisão do Banco Central de elevar a taxa Selic para 14,25% ao ano, em três etapas, reflete uma postura rigorosa para combater a inflação e moderar as expectativas de mercado. Johannes Zutt avaliou que, apesar de desafiadora, essa medida é essencial para manter a estabilidade macroeconômica e evitar uma escalada inflacionária que possa comprometer a recuperação econômica.
“Dada a longa história do Brasil com a inflação, é particularmente necessário que o Banco Central deixe claro que fará o que for preciso para conter a alta de preços e sustentar a confiança de investidores e consumidores”, afirmou.
Reformas tributárias e fiscais
Um dos avanços mais significativos apontados foi a aprovação da reforma tributária sobre o consumo, considerada um marco estrutural para o Brasil. O novo modelo substituirá um sistema tributário antigo e complexo por um Imposto sobre Valor Agregado (IVA), alinhado aos padrões internacionais.
“Essa reforma era esperada há décadas e finalmente permitirá que o Brasil adote um sistema mais simples e eficiente, reduzindo a carga administrativa sobre empresas e impulsionando a competitividade”, destacou Zutt.
No entanto, o diretor ressaltou a urgência de uma reforma fiscal abrangente, com revisão de despesas obrigatórias e maior flexibilidade orçamentária. Ele mencionou a necessidade de avaliar os gastos com saúde, educação e benefícios indexados ao salário mínimo, que limitam a capacidade de ajustes fiscais necessários para garantir a sustentabilidade das contas públicas no médio e longo prazo.
Desafios para o crescimento econômico
Apesar das revisões para cima no crescimento do PIB, que deve atingir 3% em 2025, Zutt considera que o Brasil ainda está aquém do potencial necessário para um país de renda média alta. Ele argumenta que o crescimento ideal seria entre 5% e 7% ao ano, similar ao que economias asiáticas como China e Vietnã alcançaram em períodos de transformação econômica.
Entre os entraves ao crescimento, Zutt apontou os baixos níveis de investimento, a pouca abertura comercial e a falta de competitividade de setores protegidos por subsídios e barreiras regulatórias. Ele sugeriu que o Brasil adote uma estratégia mais ousada de inserção no comércio global, começando pela remoção de barreiras internas e abrindo gradualmente os mercados para a concorrência internacional.
“É preciso ajudar o setor privado a crescer, mas sem protegê-lo da competição. Muitas empresas brasileiras são competitivas internacionalmente, e o Brasil tem potencial para se destacar no mercado global, desde que adote políticas que incentivem a produtividade”, afirmou.
Potencial verde do Brasil
Um ponto positivo destacado por Zutt é o potencial do Brasil como potência verde. Com mais de 85% da eletricidade proveniente de fontes renováveis, o país tem uma vantagem significativa para liderar a descarbonização global. Ele ressaltou que o Brasil pode integrar-se ao mercado de produtos sustentáveis, aproveitando sua matriz energética limpa para atrair investimentos e exportar bens de baixo impacto ambiental.
“A descarbonização da economia brasileira exigiria apenas 0,5% do PIB adicional, uma fração do que muitos outros países precisam investir. Essa é uma oportunidade única para o Brasil liderar a transição global para uma economia mais verde”, enfatizou.
Tensões comerciais e impacto externo
Zutt também abordou os impactos da reeleição de Donald Trump nos Estados Unidos, que trouxe valorização do dólar e tensões comerciais globais. Embora o Brasil tenha registrado perdas no câmbio, Zutt acredita que o impacto será limitado devido à baixa exposição do país ao comércio internacional, que representa apenas 40% do PIB, abaixo da média de países de renda média.
“Apesar de algumas pressões externas, o Brasil tem resiliência. Com uma agenda reformista consistente, o país pode superar esses desafios e se posicionar como uma economia globalmente competitiva”, concluiu.
Perspectivas futuras
Para alcançar crescimento sustentável, Zutt defendeu um pacote completo de reformas, incluindo maior abertura comercial, redução de subsídios ineficientes e fortalecimento do ambiente regulatório. Ele destacou que, com políticas bem implementadas, o Brasil tem condições de aumentar sua produtividade e alcançar um crescimento robusto, capaz de reduzir desigualdades e elevar o padrão de vida da população.
A análise ressalta que, embora o Brasil enfrente desafios significativos, as reformas recentes e as vantagens naturais do país oferecem uma base sólida para transformar sua economia e garantir um futuro mais próspero.