Views
Quando Donald Trump venceu as eleições presidenciais em novembro, o mercado reagiu com otimismo diante das promessas de revitalização da economia americana. O novo governo se comprometeu a atrair investimentos, reduzir regulações, endurecer políticas migratórias e cortar impostos para impulsionar o consumo. Entretanto, apenas cinquenta dias após a posse, o entusiasmo inicial dá sinais de esgotamento, e o mercado financeiro começa a reavaliar as expectativas.
Nesta segunda-feira, as bolsas americanas operam em forte queda. O índice Dow Jones recua mais de 800 pontos, enquanto o S&P 500 perde mais de 2% e o Nasdaq cai cerca de 4%. Esse movimento afeta mercados globais, pressionando também o Ibovespa, que registra queda de aproximadamente 1%, mantendo-se em torno dos 123 mil pontos. No mercado de câmbio, o dólar disparou, ultrapassando R$ 5,84 no início da tarde.
A preocupação dos investidores está relacionada ao impacto das políticas comerciais de Trump, que podem gerar uma escalada inflacionária, dificultando a tão aguardada redução das taxas de juros pelo Federal Reserve. Em entrevista à Fox News no domingo, Trump evitou a palavra recessão, mas reconheceu que os EUA enfrentarão um "período de transição", atribuindo a desaceleração ao processo de repatriação de riqueza para o país.
Economistas do JPMorgan elevaram a probabilidade de uma recessão para 40% neste ano, acima dos 30% projetados no início de 2025. O Goldman Sachs também revisou suas estimativas, aumentando de 15% para 20% a chance de retração econômica nos próximos 12 meses. O Morgan Stanley, por sua vez, reduziu a previsão de crescimento do PIB para 1,5% em 2025 e 1,2% em 2026, citando os efeitos negativos das políticas protecionistas adotadas pelo governo.
Além das projeções pessimistas, alguns indicadores reforçam a preocupação com uma possível recessão. O modelo GDPNow, do Federal Reserve de Atlanta, projeta uma contração de 2,4% no PIB americano no primeiro trimestre de 2025, o pior desempenho desde a pandemia de covid-19. Outros sinais de alerta incluem a queda na confiança do consumidor para o menor nível em 15 meses e um aumento expressivo nos anúncios de demissões, que atingiram o maior patamar dos últimos quatro anos e meio.
Especialistas apontam que as novas tarifas impostas por Trump representam um risco adicional. O governo já elevou tarifas sobre importações do México, Canadá e China, além de setores estratégicos como aço, alumínio e automóveis. No caso da China, as taxas dobraram, atingindo 20% sobre todas as exportações para os EUA. Pequim respondeu com medidas retaliatórias, mas de forma moderada, focando em produtos sensíveis para a economia americana.
As políticas protecionistas também têm impacto direto sobre o mercado de trabalho. O Departamento de Eficiência Governamental, comandado por Elon Musk, planeja cortar pelo menos 200 mil empregos no setor público, o que pode afetar mais de cinco milhões de trabalhadores ligados a contratos governamentais. Esse cenário preocupa analistas, que preveem um enfraquecimento da renda familiar ao longo do ano, agravado pela redução dos gastos públicos.
O impacto das tarifas já se reflete no déficit comercial americano, que em janeiro atingiu o maior nível desde 1992. As empresas tentam antecipar-se a novas medidas protecionistas, elevando importações antes que as novas taxas entrem em vigor. O Wells Fargo estima que, caso todas as tarifas planejadas sejam implementadas, 44% das importações americanas serão afetadas, o que pode intensificar as pressões inflacionárias e prolongar a incerteza econômica.
Enquanto o governo insiste que as tarifas fortalecerão a economia no longo prazo, o mercado começa a duvidar dessa narrativa. Caso as medidas de Trump não consigam conter a desaceleração econômica, o país pode enfrentar um cenário de recessão antes do final do ano, forçando o Federal Reserve a rever sua política monetária. O futuro da economia americana, portanto, dependerá do equilíbrio entre o protecionismo defendido por Trump e a necessidade de manter a estabilidade do mercado.