Views
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, pretende transformar a US International Development Finance Corporation (DFC) em um instrumento central de sua estratégia econômica e geopolítica. Entre os planos em discussão, está o uso da agência para impulsionar um fundo soberano, mobilizando centenas de bilhões de dólares de Wall Street e ampliando a influência dos EUA em países estratégicos como Groenlândia e Panamá. A ideia é que a DFC, que pode ter até US$ 120 bilhões em capital próprio, viabilize grandes investimentos com motivação geopolítica, atraindo o interesse de poderosos investidores institucionais.
Além de reforçar a influência americana no exterior, os assessores de Trump enxergam a DFC como uma ferramenta para reconfigurar a ajuda externa e investir em setores estratégicos, como data centers e cadeias de suprimento de minerais essenciais. Esse movimento já vinha sendo estruturado no governo de Joe Biden, mas deve ganhar nova dimensão sob a administração Trump. O fortalecimento da agência gerou uma disputa interna por sua liderança, com candidatos incluindo um ex-executivo da Bridgewater Associates e um ex-parlamentar republicano, que já passaram por entrevistas na propriedade de Trump em Palm Beach.
O novo governo pretende transformar a DFC em um instrumento eficaz de poder econômico, permitindo que grandes gestoras, como a BlackRock, direcionem investimentos estratégicos para regiões de interesse dos EUA. Entre os envolvidos nas discussões estão o bilionário Stephen Feinberg, cofundador da Cerberus Capital Management e indicado por Trump como vice-secretário de Defesa, e Elon Musk, que tem sido um conselheiro informal da equipe de transição.
Criada durante o primeiro mandato de Trump pelo Congresso, a DFC surgiu como uma alternativa dos EUA para competir com a Iniciativa do Cinturão e da Rota da China. Desde então, a agência tem atraído o interesse de Wall Street e apoio bipartidário no Congresso, consolidando-se como um mecanismo de financiamento de projetos estratégicos no exterior. Atualmente, a DFC tem US$ 49 bilhões comprometidos, sendo US$ 12,1 bilhões apenas no ano fiscal de 2024. Uma das mudanças esperadas para o novo mandato de Trump é a redução de investimentos em projetos tradicionais de desenvolvimento e sustentabilidade, redirecionando os recursos para mineração estratégica e setores de interesse direto da segurança nacional.
Congressistas de ambos os partidos defendem que o limite de empréstimos da agência seja ampliado para US$ 120 bilhões e que a DFC possa investir em países estratégicos, independentemente de sua renda. O novo governo também avalia complementar os recursos da DFC com verbas do Pentágono e da USAID, reforçando sua capacidade de ação.
Apesar de não estar entre as prioridades do presidente eleito, a DFC tem sido amplamente discutida dentro da equipe de transição. Trump avalia usar a agência para financiar projetos como mineração e reservas estratégicas de minerais, em parceria com a Agência de Logística de Defesa do Pentágono. Entre os nomes cotados para comandar a DFC estão David Bohigian, ex-executivo da Bridgewater Associates, George King III, banqueiro de investimentos da Flórida, e Ted Yoho, ex-parlamentar republicano que foi um dos responsáveis pela criação da agência. Yoho defende que a DFC tenha um mandato mais amplo e acredita que a agência pode cumprir o papel de fundo soberano americano.
Entre os cenários cogitados está a possibilidade de a DFC atuar na aquisição de ativos estratégicos, como minas de cobre e estoques de minerais essenciais, reforçando a capacidade dos EUA na disputa global por recursos com a China. O novo conselheiro de Segurança Nacional de Trump, Michael Waltz, apoia a ideia de transformar a DFC em um instrumento central da estratégia americana, ampliando seu alcance e capacidade de decisão.
Embora os detalhes do plano ainda estejam sendo definidos, a proposta reflete uma abordagem agressiva de Trump na tentativa de fortalecer a posição dos EUA na disputa global por commodities estratégicas e infraestrutura crítica. Caso a estratégia avance, a DFC pode se tornar uma peça-chave na geopolítica americana, funcionando como um fundo soberano informal e permitindo que o governo direcione investimentos em áreas de interesse direto.
A renovação do mandato da DFC já tem apoio bipartidário no Congresso, com projetos de lei circulando para dobrar seu limite atual de investimento e remover restrições que limitam sua atuação. A possibilidade de ampliar o escopo da agência deve enfrentar resistência de setores conservadores, mas o governo Trump aposta que a flexibilidade da DFC permitirá atrair mais investimentos privados e maximizar o retorno para os contribuintes americanos.
Independentemente do formato final da proposta, a administração Trump parece determinada a utilizar a DFC como um instrumento de projeção global, consolidando sua influência econômica e estratégica em regiões-chave do planeta.