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O preço do Bitcoin e do mercado de criptomoedas disparou após a vitória de Donald Trump em novembro, ganhando ainda mais impulso nos dias que antecederam sua posse em 20 de janeiro. A expectativa entre os entusiastas do setor é de que o novo governo adote políticas favoráveis às criptomoedas, reforçando a imagem de Trump como um defensor da indústria. No entanto, permanece a dúvida se essas expectativas têm fundamento ou se refletem um otimismo exagerado do mercado.
Durante um discurso em Nashville, em julho do ano passado, Trump prometeu transformar os Estados Unidos na capital global das criptomoedas e anunciou sua intenção de criar uma Reserva Estratégica de Bitcoin (SBR). “Faremos algo grandioso com criptomoedas porque não queremos que a China ou qualquer outro país saia na frente”, declarou à CNBC no mês passado.
Agora, diante dos primeiros sinais de uma possível alta da inflação e do temor de uma crise econômica, há a expectativa de que Trump emita diversas ordens executivas voltadas para o setor cripto, incluindo a flexibilização das regulamentações, a criação de um Conselho Consultivo Presidencial de Criptomoedas — que deve reunir cerca de 20 CEOs e fundadores ligados ao presidente — e a revogação de normas restritivas, como o SAB 121.
Entre as propostas mais ambiciosas está o posicionamento dos Estados Unidos como centro global da mineração de Bitcoin. Para liderar a iniciativa, Trump nomeou o investidor de risco e apresentador de podcast David Sacks como primeiro "czar da inteligência artificial e criptomoedas" do país. Como parte das celebrações de posse, Sacks organizou um baile cripto em Washington, no Auditório Andrew W. Mellon, no dia 17 de janeiro. O evento foi co-organizado por grandes players do setor, como BTC Inc., Stand With Crypto, Exodus, Anchorage Digital e Kraken, além de contar com o patrocínio de empresas como MicroStrategy, MetaMask, Coinbase, Solana e Galaxy Digital.
Segundo o New York Post, Trump avalia uma estratégia de reserva de criptomoedas baseada na premissa "América em primeiro lugar", o que incluiria Bitcoin e ativos digitais criados nos EUA, como XRP e Solana. Há especulações sobre a inclusão da moeda meme $TRUMP, ligada ao ex-presidente, nessa reserva. Lançada recentemente na blockchain Solana, a criptomoeda teve um suprimento inicial de 200 milhões de tokens, com liberação gradual ao longo de três anos, e já atingiu um valor de mercado de aproximadamente US$ 13 bilhões. Seu preço oscilou entre US$ 21 e US$ 73,43, estabilizando-se em torno de US$ 66 no momento da publicação deste artigo.
Atualmente, os Estados Unidos já detêm um significativo portfólio de criptomoedas, com quase US$ 20 bilhões em Bitcoin apreendidos em diversas operações policiais, segundo dados da empresa de análise Arkham. O governo possui cerca de 198.109 BTC, avaliados em aproximadamente US$ 20,63 bilhões, além de ativos como 54.753 ETH (US$ 189,03 milhões), 122,13 milhões de USDT (US$ 122,13 milhões) e 750.722 WBTC (US$ 77,77 milhões), entre outros criptoativos, como Binance Coin (BNB), Aave (AAVE) e USD Coin (USDC).
A criação de uma reserva cripto poderia representar um apoio governamental inédito ao Bitcoin como reserva de valor e ativo estratégico, o que, a exemplo de eventos anteriores de adoção institucional, poderia impulsionar a demanda e reduzir a oferta no mercado. Esse movimento poderia desencadear um efeito cascata, levando outros países a adotarem políticas semelhantes, o que aumentaria ainda mais a valorização das criptomoedas. Projeções indicam que o Bitcoin pode alcançar valores entre US$ 120.000 e US$ 150.000 nos próximos seis a 12 meses, dependendo do sentimento do mercado e de fatores macroeconômicos.
Caso os EUA priorizem ativos criados no país, como XRP e Solana, esses tokens poderiam registrar uma valorização de 30% a 50% no curto prazo. Além disso, o lançamento da moeda meme $TRUMP poucos dias antes da posse parece um movimento estratégico para reforçar a postura pró-cripto do ex-presidente e estimular o entusiasmo de seus apoiadores no setor.
No entanto, algumas questões permanecem sem resposta. Embora a agenda pró-cripto seja apresentada como uma estratégia de desregulamentação, políticas direcionadas pelo governo inevitavelmente impõem novos padrões de regulação, o que pode gerar atritos com os valores descentralizados da comunidade cripto. Além disso, caso a flexibilização das normas avance, como garantir a proteção do consumidor? Encontrar um equilíbrio entre inovação e supervisão será um desafio significativo.
O mercado de criptomoedas tem motivos para se animar com as possíveis mudanças, já que a postura do novo governo pode impulsionar a adoção e valorização dos ativos digitais. Entretanto, a execução dessas políticas e os fatores externos ainda serão determinantes para medir a real sustentabilidade desse crescimento. Como em outras ocasiões, promessas políticas podem enfrentar obstáculos e demorar a se concretizar, o que poderia frustrar expectativas e impactar negativamente o mercado.