Os investimentos em infraestrutura na América Latina estão crescendo rapidamente, impulsionados pela crescente demanda por data centers para inteligência artificial (IA) e computação em nuvem. Investidores do setor privado estão cada vez mais interessados na região, atraídos pela abundância de energia renovável e pelos incentivos governamentais.
Além do setor de data centers, a América Latina também está se tornando um destino de destaque para investimentos em saneamento e rodovias. Muitos governos estão buscando reduzir a defasagem entre a necessidade de expansão da infraestrutura e a escassez de recursos públicos disponíveis. Como resultado, os investimentos na região atingiram US$ 11,7 bilhões nos três primeiros trimestres de 2024, mais que o dobro do total registrado em todo o ano de 2023, segundo dados da Lavca, associação de private equity da América Latina.
Crescimento do setor de data centers na América Latina
De acordo com Tim Formuziewich, líder da I Squared Capital para a América Latina, a região oferece oportunidades de investimento significativas em setores como transporte, energia e infraestrutura de dados. No entanto, ele destaca que é essencial identificar os setores com maior potencial de crescimento para maximizar os retornos.
Os investimentos em infraestrutura de dados na América Latina não se limitam apenas ao atendimento da demanda regional. De acordo com Andre Sales, chefe de infraestrutura da gestora Pátria, a região possui apenas 2% da capacidade global de processamento de dados, enquanto responde por cerca de 7% do tráfego mundial. Com isso, a América Latina se tornou um destino estratégico para a expansão da capacidade de processamento de IA.
O Pátria foi um dos pioneiros nesse setor, tendo fundado a Odata em 2015, uma operadora de data centers que posteriormente foi adquirida pela norte-americana Aligned Data Centers em 2023.
A crescente demanda por IA e computação em nuvem também levou a administração Trump a anunciar um ambicioso plano de investimentos no setor. Em janeiro de 2025, o presidente Trump revelou uma joint venture liderada pelo SoftBank, OpenAI e Oracle para financiar projetos de IA. Segundo Masayoshi Son, CEO do SoftBank, o plano prevê um investimento imediato de US$ 100 bilhões, com potencial para alcançar US$ 500 bilhões nos próximos anos.
A I Squared também está investindo pesadamente na infraestrutura digital da América Latina. Em 2021, adquiriu a Kio Networks, maior operadora de data centers e serviços digitais do México. Atualmente, a gestora também possui data centers na Guatemala, Panamá, República Dominicana e Colômbia, além de investimentos em infraestrutura energética e portuária na região.
Energia renovável e incentivos fiscais
A crescente demanda por infraestrutura digital também impulsionou os investimentos privados em geração e transmissão de energia. A IA consome quantidades significativas de eletricidade – uma consulta ao ChatGPT, por exemplo, utiliza quase dez vezes mais energia do que uma pesquisa no Google, segundo um relatório do Goldman Sachs.
A América Latina possui uma vantagem competitiva nesse setor devido aos seus baixos custos de produção e à disponibilidade de energia renovável. “Qualquer empresa preocupada em reduzir sua pegada de carbono se beneficiaria de investimentos na América Latina, onde há bastante energia limpa disponível”, afirmou Erickson Araújo Santana Oliveira, sócio do escritório Levy & Salomão Advogados.
Além disso, recentes reformas tributárias no Brasil reduzirão gradualmente a carga fiscal sobre a importação de unidades de processamento gráfico (GPUs), essenciais para IA. A alíquota cairá de 48% para 14% até 2033, tornando o país mais competitivo no setor de tecnologia.
Expectativas de crescimento e expansão
O mercado de data centers na América Latina deve dobrar de valor até 2029, passando de US$ 5-6 bilhões em 2023 para até US$ 10 bilhões, de acordo com um relatório da White & Case. O crescimento exponencial desse setor é impulsionado por regulamentações favoráveis à localização de dados e pela proximidade da região com os Estados Unidos, um dos maiores mercados consumidores de tecnologia.
Empresas como Microsoft, Amazon, Alphabet (Google), Meta, Oracle, Huawei e Tencent estão expandindo suas operações na região. Somente em 2024, essas companhias anunciaram investimentos superiores a US$ 9 bilhões na América Latina, segundo dados compilados pela Bloomberg.
As debêntures de infraestrutura também registraram um crescimento expressivo no Brasil. Até novembro de 2024, a emissão desses títulos somou R$ 120,3 bilhões, um aumento de 77% em relação ao total de 2023, segundo a Anbima.
Outras oportunidades no setor de infraestrutura
Além do setor de tecnologia, as concessões de rodovias e saneamento na América Latina continuam atraindo grandes investidores de private equity. No Brasil e na Colômbia, por exemplo, cerca de 7.000 quilômetros de estradas serão leiloados nos próximos 12 meses, segundo Andre Sales, da Pátria. Ele estima que o Brasil precisará de pelo menos US$ 120 bilhões em investimentos em água e esgoto para expandir esses serviços à população.
As concessões rodoviárias brasileiras devem atrair cerca de R$ 120 bilhões em investimentos nos próximos anos, segundo estimativas de Oliveira, do Levy & Salomão Advogados.
Tim Formuziewich, da I Squared, destaca que os setores de exportação e logística também são estratégicos para o desenvolvimento da infraestrutura regional. “O Brasil é o provedor de alimentos do mundo, enquanto Chile, Peru e Colômbia são fornecedores globais de minerais. Estamos interessados em investir em corredores de exportação, estradas e portos”, afirmou. Ele também destacou o potencial do setor de aviação e das oportunidades no México relacionadas ao “nearshoring” – estratégia em que empresas realocam sua produção para países próximos aos seus mercados consumidores, reduzindo custos logísticos.
A América Latina se consolidou como um destino promissor para investimentos em infraestrutura, impulsionada pela crescente demanda por data centers, energia renovável, saneamento e rodovias. O mercado de tecnologia e IA tem se mostrado especialmente atraente, com grandes empresas globais expandindo sua presença na região.
Com incentivos fiscais no Brasil, um ambiente regulatório favorável e um aumento significativo na emissão de debêntures para financiar projetos, a tendência é que os investimentos na infraestrutura da América Latina continuem crescendo nos próximos anos.
