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A N5X, nova bolsa de energia do Brasil formada a partir da joint venture entre a European Energy Exchange (EEX) e a L4 Venture Builder, fundo independente apoiado pela B3, deve começar as operações no segundo trimestre. A expectativa é elevar a liquidez do mercado brasileiro de energia, atuando como uma contraparte central ou “clearing”, que vai registrar, verificar, conciliar e liquidar ordens de compra e venda.
A bolsa, sediada em São Paulo, terá o respaldo da EEX, uma bolsa de energia presente em mais de 21 países. Suas plataformas são dedicadas à negociação de uma variedade de ativos como eletricidade, gás natural, créditos de carbono, além de frete e produtos agrícolas.
O L4 Venture Builder, fundo da B3 para investimentos em inovação, por sua vez, quer aproveitar o atual contexto de abertura do mercado livre de energia. Por esse mercado passa cerca de 36% do consumo de eletricidade, equivalente a R$ 150 bilhões, valor que deve crescer com a abertura do mercado e a chegada de novas empresas.
A ideia é que a N5X atue justamente no mercado livre de energia, segmento em que o consumidor de energia elétrica pode escolher o seu fornecedor e estabelecer contratos por fonte, prazo ou preço. Em entrevista ao Valor, a executiva-chefe (CEO) da N5X, Dri Barbosa, conta que já teve conversas com mais de 30 participantes do mercado brasileiro e com operadores globais que estão interessados em começar a atuar no Brasil.
“O mercado de energia livre movimentou R$ 150 bilhões no ano passado ]mesmo valor de 2022] com um giro de 4,27 vezes. Quando olhamos para benchmarks em que se tem um mercado de derivativos de energia avançado com contraparte central, esse giro é de 10 vezes ou mais”, disse Barbosa, referindo-se a quantas vezes um ativo pode trocar de mãos e ser negociado.
Players globais estão interessados em novas classes de ativos para negociar”
— Dri Barbosa
Além de atuar como contraparte central para as operações, a N5X pretende trazer para a plataforma novas interfaces de negociação, como a RFQ (“request for quotation”). Também vai introduzir derivativos, instrumentos financeiros que permitem que os participantes do mercado façam “hedge” (proteção) de suas posições. “Nas conversas, percebemos o quanto players globais estão interessados em ter novas classes de ativos para negociar. Para isso é preciso ter um mercado com negociação em tela, contratos padronizados, instrumentos financeiros e contraparte central”, diz a executiva.
Para os serviços da N5X, há a necessidade de autorizações regulatórias ou mediações de órgãos de controle. No caso de derivativos, a empresa precisará da aprovação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). No caso da contraparte central, a autorização é do Banco Central.
Membro do conselho de administração da EEX, Tobias Paulun diz que a entidade opera quatro bolsas de energia regulamentadas e duas câmaras de compensação. Segundo ele, a aposta no Brasil é por conta do potencial de crescimento do mercado energético brasileiro. Com as novas regras, empresas com consumo de energia abaixo de 500 quilowatts (kW) podem migrar para o ambiente livre a partir de 2024. O setor estima que existam 72 mil unidades com potencial para adesão. “O Brasil tem um elevado nível de geração e procura de energia física, sendo o sexto maior produtor de energia do mundo”, afirma.
Já há iniciativas de entidades brasileiras para estimular o mercado de derivativos de energia, como a BBCE e a própria B3, que contribui com a infraestrutura existente do mercado de energia. Paulun lembra que tal como acontece com outros mercados financeiros, a negociação de energia está sujeita a risco de preço, liquidez e crédito. Quando se desenvolvem novos mercados, as transações são normalmente realizadas no mercado de balcão, numa base bilateral.
“Esses negócios são estruturados, documentados e executados individualmente. À medida que cresce o número de participantes e a complexidade para gerir as obrigações contratuais, surge a necessidade de uma solução mais padronizada e centralizada. O desenvolvimento de uma bolsa de energia é, portanto, uma consequência lógica e um sinal de um mercado energético maduro”, diz Paulun.
(Valor Econômico)