Setor de bens de capital perde fôlego com juro alto em 2025
Política monetária restritiva e atividade menos aquecida devem desacelerar investimentos em máquinas e equipamentos

A produção de bens de capital no Brasil registrou um crescimento de 9,1% em 2024, conforme dados da Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF) divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (5). Apesar do avanço expressivo, a Tendências Consultoria projeta um cenário menos otimista para 2025, com uma expansão estimada em apenas 1,9%. Esse desempenho mais modesto reflete os impactos de uma política monetária mais restritiva, com elevação da taxa Selic, e expectativas mais conservadoras em relação à massa de rendimentos do trabalho.

O coordenador da PIM-PF, André Macedo, destacou que o crescimento de 2024 ocorreu sobre uma base deprimida, após dois anos consecutivos de retração (2022 e 2023). Contudo, ele observa uma perda de fôlego da produção no último trimestre do ano passado, com quedas de 0,2% em outubro, 0,7% em novembro e 0,3% em dezembro. Para Macedo, esse arrefecimento está relacionado ao impacto do ciclo de alta dos juros, que afeta a confiança dos empresários e o poder de consumo das famílias, além da pressão de custos provocada por um câmbio mais elevado.

Desde o início do novo ciclo de aperto monetário em setembro de 2024, a Selic subiu de 10,50% para 13,25% ao ano, com previsão de nova alta de 1 ponto percentual em março. O mercado financeiro já projeta que a taxa pode chegar a 15% até o final de 2025, enquanto a inflação deve atingir 5,50% neste ano, segundo o Boletim Focus do Banco Central.

Para a economista Yasmin Riveli, da Tendências, a desaceleração da economia deve se acentuar ao longo de 2025. "O começo do ano ainda deve apresentar taxas relativamente fortes, pois o impacto da alta dos juros leva algum tempo para se materializar. No entanto, a tendência é de uma desaceleração expressiva no decorrer do ano", afirmou.

O economista Rafael Cagnin, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), ressalta que a produção de bens de capital é altamente sensível aos juros, não apenas pela dependência de financiamento, mas também pelo aumento do custo de oportunidade. "Juros mais altos desestimulam investimentos com retorno inferior à taxa de juros, o que paralisa projetos e afeta diretamente o setor", explicou.

Entre os segmentos industriais, a produção de caminhões deve crescer de forma mais moderada em 2025, enquanto o setor agropecuário e os investimentos em infraestrutura e energia podem impulsionar o desempenho de algumas áreas. O ambiente econômico desafiador, aliado ao aperto fiscal e à desaceleração da atividade, também deve impactar o volume de importações de bens de capital. Em 2024, a importação desses produtos cresceu 20,6% em valor e 25,6% em volume.

A economista Lia Valls, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), observa que a volatilidade cambial e as incertezas no cenário internacional, especialmente com a política tarifária do governo Trump nos Estados Unidos, aumentam a cautela dos investidores. "O câmbio não está apenas desvalorizado, mas também muito volátil, o que dificulta decisões de investimento", afirmou.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso, destaca que o aumento das importações de bens de capital não reflete necessariamente um crescimento dos investimentos no Brasil, mas sim uma maior competitividade dos produtos chineses. "O ganho de participação da China no mercado brasileiro já era perceptível antes mesmo das recentes mudanças no cenário global", concluiu.

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