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Apesar das inúmeras iniciativas para a digitalização financeira, o Brasil continua com um contingente enorme de pessoas que usam diariamente o dinheiro em espécie — seja por conveniência ou por falta de alternativas. Um dos grandes agentes dessa operação diária é a TecBan, dona da rede Banco24Horas. São mais de 23.000 caixas eletrônicos distribuídos em 900 cidades e cerca de 145 milhões de usuários anuais do serviço.
Mas o futuro dos caixas, também chamados de ATMs (sigla em inglês), vai muito além do fornecimento de extratos ou dos saques de dinheiro. Para Tiago Aguiar, superintendente de Novas Plataformas da TecBan, em um futuro próximo os caixas podem funcionar como um hub de serviços para o cliente.
Com a entrada em vigor do Open Banking neste início de ano, os clientes de bancos contarão com uma espécie de marketplace para cada produto financeiro (financiamento, cartão de crédito, crédito pessoal etc.). Para Aguiar, o caixa eletrônico pode servir como uma plataforma para a exibição e a contratação desses produtos.
“O Brasil tem uma estrutura de telecomunicações robusta, mas o acesso à internet de alta velocidade é limitado. Além disso, boa parte da população não possui um smartphone que suporte os aplicativos dos bancos e das fintechs. Por que não usar o ATM como ferramenta para essa inclusão?”, questiona Aguiar.
Digitalização financeira
A equipe de Aguiar tem a missão de trazer novos negócios para a gigante dos caixas eletrônicos. Algumas das soluções encomendadas nos últimos meses foram a possibilidade de saque no varejo (por meio das máquinas de cartão) e o uso de um QR Code para saque nos caixas eletrônicos. A iniciativa mais recente consiste no fornecimento de um serviço para as instituições financeiras que querem se conectar à plataforma do Open Banking.
O Open Banking é uma estrutura única de compartilhamento de dados e transações financeiras habilitadas no Brasil pelo Banco Central. Por já contar com mais de 150 bancos, fintechs e carteiras digitais “plugadas” no seu sistema de ATMs, a TecBan acredita que pode ajudar os parceiros a entrar mais rapidamente no ecossistema criado pela nova plataforma.
É o fim do dinheiro em espécie?
Espera-se que ao longo de 2021 seja muito mais simples, por exemplo, contratar crédito e realizar operações financeiras digitalmente. Embora parte desses serviços concorra com a lógica de uso dos caixas eletrônicos, a TecBan afirma que a tecnologia não vai acabar com o uso do dinheiro em espécie.
“Ainda temos regiões em que o único ponto físico de serviço financeiro da população local é um dos nossos caixas eletrônicos. Estamos investindo no serviço digital para integrar as outras soluções que já temos. Não se trata de uma coisa ou outra”, defende Aguiar.
Para defender essa tese, o executivo cita o aumento da circulação de dinheiro em espécie durante a pandemia do coronavírus, embora reconheça que o grande motor do fenômeno foi o pagamento do auxílio emergencial pelo governo. “No Brasil, o dinheiro em circulação representa somente 3,7% do PIB. No Reino Unido, essa fatia é de 4%; nos Estados Unidos, é de 8,9%; no Japão, de 22%”, cita o executivo da empresa.
Uma das razões para a menor circulação de cédulas no país é o alto custo de transporte, segurança e armazenamento do dinheiro. Aguiar sustenta que os empresários têm uma série de custos para oferecer outras opções de pagamento, como as taxas cobradas pelas operadoras dos cartões de crédito e débito. “Não podemos limitar as opções. O empresário e o cliente devem decidir o que faz mais sentido para a própria realidade”, afirma.
Por Bianca Alvarenga