Agronegócio deve representar quase o dobro do saldo da balança comercial em 2025
Café, carnes, milho e açúcar devem dar as maiores contribuições para aumento do saldo comercial neste ano em relação a 2024

Impulsionado pelas exportações de carnes, café, milho e açúcar, o agronegócio deve continuar sendo o principal responsável pelo superávit da balança comercial brasileira em 2025. As transações envolvendo produtos do setor devem alcançar US$ 126,8 bilhões, quase o dobro do saldo total projetado para a balança comercial do país, estimado em US$ 67 bilhões pela consultoria MacroSector.

A dependência do agronegócio para o equilíbrio da balança comercial não é novidade, mas desde 2022 essa relação não era tão evidente. Naquele ano, o saldo comercial do setor agropecuário foi duas vezes maior que o da balança geral, ainda que os números fossem menores do que os previstos para 2025. Nos últimos dois anos, essa relação foi menor, caindo para 1,3 vez em 2023 e 1,6 vez em 2024.

Segundo o economista Fabio Silveira, da MacroSector, esse fortalecimento do agronegócio é resultado da combinação de fatores como a alta no preço das commodities, o crescimento acelerado das economias asiáticas, especialmente da China, e a liquidez global. A injeção de recursos em programas de transferência de renda em diversos países para conter os efeitos da pandemia impulsionou a valorização das commodities, beneficiando as exportações do setor.

Por um lado, a balança comercial agropecuária fortalece as reservas internacionais do Brasil e ajuda a estabilizar o câmbio, o que se tornou ainda mais relevante diante da desvalorização do real nos últimos meses. Silveira avalia que essa reserva ajudou a conter a escalada do dólar, que poderia ter chegado a R$ 7. No entanto, o peso excessivo do agronegócio na balança comercial preocupa economistas como José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), pois limita o crescimento econômico e a geração de empregos qualificados. Ele alerta que a exportação de matérias-primas não gera valor agregado e depende das oscilações do mercado internacional.

O déficit na balança comercial de bens manufaturados, que em 2024 chegou a US$ 135 bilhões, ilustra essa fragilidade da indústria brasileira. A estimativa da consultoria para 2025 aponta um déficit de US$ 13,1 bilhões para bens de consumo e US$ 64,5 bilhões para bens de capital, reforçando a dependência do setor primário.

Entre os principais produtos do agronegócio, a soja, que historicamente lidera as exportações do setor, deve registrar um saldo comercial menor, passando de US$ 42,6 bilhões em 2024 para US$ 39,2 bilhões este ano, impactada pelo aumento dos estoques globais e consequente queda nos preços. Em contrapartida, o milho e o café devem se destacar. O saldo comercial do milho deve alcançar US$ 9,5 bilhões, US$ 1,6 bilhão a mais que no ano anterior, impulsionado pela redução dos estoques globais e pelo aumento da demanda chinesa.

Já o café foi um dos destaques de 2024 e deve continuar crescendo em 2025. No ano passado, o saldo comercial do grão atingiu US$ 11,3 bilhões, um aumento de quase 60% em relação a 2023. A projeção para este ano é que o saldo suba para US$ 12,8 bilhões, impulsionado pela menor oferta global e pelo aumento da demanda. Em 2024, o Brasil bateu recorde de exportação com 50,4 milhões de sacas embarcadas, enquanto o preço médio de exportação atingiu o maior nível em cinco anos.

As carnes também devem desempenhar um papel crucial na balança comercial do agronegócio. A expectativa é de que o saldo do setor chegue a US$ 25,6 bilhões, superando os US$ 24,2 bilhões de 2024. O açúcar, embora em menor escala, também deve contribuir para o superávit, com saldo estimado em US$ 19,6 bilhões.

Diante desse cenário, o agronegócio segue como o principal pilar da balança comercial brasileira, garantindo reservas cambiais e estabilidade econômica, mas reforçando a necessidade de diversificação da pauta exportadora para impulsionar a indústria e gerar empregos qualificados.

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