Alta do dólar pressiona projeções para 2024, com impacto de política fiscal e cenário internacional
Desde o início de setembro, o dólar acumula uma alta de 4% frente ao real

Desde o início de setembro, o dólar acumula uma alta de 4% frente ao real, e especialistas do mercado financeiro já revisam suas previsões de câmbio para o fim de 2024, impulsionados por uma combinação de fatores. Entre os principais motivos estão a postura do Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos, que descartou um corte mais agressivo de juros, o cenário fiscal brasileiro em deterioração e a possibilidade de Donald Trump adotar uma política econômica protecionista, caso seja reeleito presidente dos EUA.

Atualmente, o dólar alcançou R$ 5,67, saindo da casa dos R$ 5,40 no final de setembro, o que já sinaliza a perda de apetite por moedas emergentes como o real. A Western Asset, por exemplo, elevou sua projeção de câmbio para o fim de 2023 de R$ 5,40 para R$ 5,50, considerando a incerteza sobre o ritmo de cortes de juros pelo Fed e o impacto da política econômica dos EUA nas moedas emergentes.

Fed e cenário fiscal complicam a situação do real

O primeiro sinal de alerta veio no final de setembro, quando o presidente do Fed, Jerome Powell, anunciou a previsão de mais dois cortes de 0,25 ponto percentual nos juros até o fim de 2023, frustrando as expectativas de um corte de 0,50 ponto. Isso reduziu a atratividade das moedas emergentes, mesmo com o Brasil ainda em início de seu ciclo de aperto monetário. A postura cautelosa do Fed, aliada à instabilidade fiscal no Brasil, foi suficiente para pressionar o câmbio.

“O Fed mais dependente de dados e um cenário menos acomodatício nos leva a crer que o dólar se manterá forte”, explica Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, que projeta o dólar a R$ 5,30 para o fim de 2024, mas com um viés de alta devido ao cenário externo e à deterioração fiscal brasileira.

Impostos para milionários agravam o mal-estar fiscal

Internamente, o ambiente fiscal brasileiro também piorou com a notícia de que o Ministério da Fazenda estaria estudando a criação de um imposto mínimo para milionários, como contrapartida para elevar a faixa de isenção do Imposto de Renda para R$ 5 mil mensais. Embora o ministro Fernando Haddad tenha afirmado que essa medida só entraria em vigor em 2025, a percepção negativa sobre o cenário fiscal se intensificou, contribuindo para a desvalorização do real.

Na última semana, o real registrou a pior performance entre as principais moedas emergentes, com uma queda acumulada de 2,92%. Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital, destacou que, além das pressões fiscais, fatores sazonais, como a saída de recursos em novembro e dezembro devido a remessas de dividendos e pagamento de juros, tendem a pressionar ainda mais o câmbio.

A possível volta de Trump e o impacto no câmbio

O cenário internacional também adicionou incertezas ao mercado cambial, especialmente com as recentes declarações de Donald Trump, que defendeu um aumento nas tarifas de importação caso seja eleito novamente presidente dos Estados Unidos. Pesquisas sugerem uma crescente probabilidade de vitória de Trump, o que alimenta temores de uma nova guerra comercial, pressionando as moedas emergentes.

Para Andrea Damico, se Trump conquistar a presidência com maioria no Congresso, o dólar pode se fortalecer ainda mais globalmente, implicando em um viés de alta mais intenso para o câmbio brasileiro. A Armor Capital, que projeta o dólar a R$ 5,50 para o fim de 2024, alerta para a possibilidade de novas revisões de alta caso o cenário fiscal e externo continuem desfavoráveis.

Com a combinação de riscos fiscais, a postura do Fed e a incerteza política nos EUA, o cenário para o real segue desafiador, com pouca expectativa de alívio no curto prazo.

redacao
Conta Oficial Verificada