Bancos devem dificultar concessão de empréstimo em 2025
Com juros elevados e inflação em alta, as instituições financeiras devem adotar uma abordagem mais conservadora

Os maiores bancos do Brasil iniciam 2025 com um cenário de crescimento mais cauteloso, após um resultado combinado de R$ 112,7 bilhões em 2024, representando um aumento de 16,4% em relação ao ano anterior. Com juros elevados e inflação em alta, as instituições financeiras devem adotar uma abordagem mais conservadora, focando em linhas de crédito com menor risco e clientes com maior capacidade de pagamento.

Os três maiores bancos privados do país pretendem concentrar suas concessões em clientes já conhecidos, com um percentual maior de garantias. Já o Banco do Brasil, segundo maior banco brasileiro em volume de ativos, aposta em sua exposição ao agronegócio e nas carteiras de crédito para pessoas físicas, que historicamente apresentam menor volatilidade e contribuem para manter a inadimplência sob controle.

Para analistas do mercado, os bancos começam a refletir o pessimismo observado nos preços dos ativos e nas curvas de juros. “A preocupação com o PIB e a inflação deve começar a impactar a renda das famílias, levando a uma desaceleração na concessão de crédito neste ano”, avalia Bernardo Guttmann, analista da XP.

As projeções para 2025 já indicam essa mudança de postura. Itaú e Bradesco divulgaram estimativas de crescimento da carteira de crédito abaixo dos números registrados em 2024. O Santander, que não divulga projeções, já vinha reduzindo o ritmo de concessões desde o terceiro trimestre do ano passado.

O movimento, no entanto, é visto como uma precaução, e não necessariamente um reflexo de deterioração dos números. “Vejo muito mais uma visão conservadora dos bancos do que uma piora efetiva. Os dados do quarto trimestre e as projeções de provisões não foram negativos”, explica Gustavo Schroden, analista do Citi.

Em 2024, os quatro maiores bancos listados — Itaú, Banco do Brasil, Bradesco e Santander — registraram crescimento de lucro. Para Itaú e BB, os resultados foram recordes, enquanto Bradesco e Santander apresentaram recuperação após um desempenho mais fraco no ano anterior.

No entanto, a dinâmica de resultados esperada para 2025 é diferente. Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), as projeções de crescimento do crédito para o ano caíram de 9% para 8,5% desde dezembro, refletindo o cenário macroeconômico mais desafiador. Em 2024, o crédito no país havia crescido 10,9%.

Diante desse contexto, os bancos devem replicar a estratégia adotada no pós-pandemia, priorizando produtos de menor risco e clientes com maior estabilidade financeira. Essa abordagem ajudou as instituições a reduzir a inadimplência nos últimos anos, após um período de forte pressão causada pela alta da inflação e dos juros em 2022.

O Bradesco, que vem passando por um processo de reestruturação, adotou uma nova métrica para o mercado: a projeção da margem líquida, que representa o ganho com empréstimos após descontadas as despesas com provisões. A mudança reforça o novo foco do banco na rentabilidade líquida, e não apenas na margem bruta das operações. A carteira de crédito da instituição encerrou 2024 com o maior nível de garantias dos últimos seis anos.

O Banco do Brasil, que tradicionalmente mantém uma carteira mais resiliente, também deve seguir essa estratégia. “Quando falamos em crescer a carteira de 7% a 11%, é porque queremos crescer a margem líquida nesse mesmo patamar”, afirmou Felipe Prince, vice-presidente de Controles Internos e Gestão de Riscos do BB. O banco deve concentrar esforços em linhas mais seguras, como o crédito consignado.

Já o Itaú, que manteve projeções para margem bruta e provisões, reforçou sua estratégia de crescimento com foco em clientes mais resilientes ao ciclo econômico. “Nossa estratégia não muda em relação a 2024 e 2023. Continuamos muito focados em clientes que oferecem menor risco”, declarou Milton Maluhy, presidente do banco.

Para os analistas, embora todos os grandes bancos adotem um discurso semelhante, cada um parte de uma situação diferente. O Bradesco enfrenta desafios adicionais devido ao momento de reestruturação, enquanto o Banco do Brasil se beneficia de uma carteira mais diversificada, com forte presença do crédito rural, que tende a crescer acima da média do setor.

No segmento de pessoas físicas, o BB projeta um crescimento de até 11% neste ano, impulsionado principalmente por sua exposição a servidores públicos, que apresentam menor risco de inadimplência. Além disso, o banco tem uma participação relevante no consignado, uma modalidade de crédito mais segura.

Com uma estratégia focada na preservação da qualidade da carteira e na rentabilidade, os bancos brasileiros iniciam 2025 ajustando suas velas para navegar em um cenário econômico mais desafiador, priorizando segurança e eficiência na concessão de crédito.

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