Empresas brasileiras freiam investimentos em meio à alta dos juros e dólar a R$ 6
Empresas brasileiras congelam investimentos e vendem ativos em resposta à alta da Selic e dólar a R$ 6, adotando estratégias para reduzir dívidas

A reversão do cenário macroeconômico, com a taxa Selic caminhando para 15% ao ano e o dólar superando R$ 6, tem levado empresas brasileiras a adotar medidas drásticas, como cortes de investimentos, venda de ativos e estratégias de desalavancagem. Esse movimento se intensificou nos últimos meses devido à deterioração das expectativas fiscais e econômicas no Brasil e no exterior, alterando os planos traçados no início do ano.

O empresário Rubens Ometto, presidente do conselho da Cosan, afirmou que a companhia não fará novos investimentos. “Com juro de 12% a 13%, nada dá retorno”, declarou em outubro, antecipando a piora do cenário. Para reduzir sua alavancagem, a Cosan já avalia desinvestimentos em suas operações da Raízen, Compass e Moove.

Na CSN, a postura é semelhante. O CEO Benjamin Steinbruch anunciou uma redução de R$ 1 bilhão em investimentos programados para 2025 a 2028. “Trabalhar com juros a 12%, 13% ou 15% é inexequível”, disse.

O impacto também afeta setores como construção civil e shoppings centers. O Grupo Sá Cavalcante, dono de seis shoppings no país, precisou adiar o lançamento de um novo empreendimento devido ao custo elevado de captação. “O cenário piorou muito para o financiamento. Talvez possamos lançar em 2025 ou 2026, mas este último parece mais provável”, lamentou Marcelo Rennó, diretor de operações da empresa.

Especialistas alertam que a alta dos juros está forçando companhias a revisitar estratégias. Segundo João Pedro Viola, diretor-executivo da Alvarez & Marsal, projetos com retorno comprometido pelo juro mais elevado tendem a ser paralisados. Viola prevê também retenção de dividendos e possíveis vendas de ativos como alternativas para equilibrar as contas.

O professor Carlos Antonio Rocca, coordenador do Cefeb-FIPE, afirma que o impacto será generalizado, especialmente no fluxo de caixa das empresas. Contudo, companhias com receita dolarizada e acesso ao mercado de capitais devem enfrentar o cenário com maior resiliência. “As empresas maiores estão mais preparadas para lidar com essa inversão de expectativas”, disse. Rocca ressaltou que os balanços do terceiro trimestre mostraram resultados robustos, o que sugere alguma resistência diante do novo contexto macroeconômico.

O apetite do mercado nos próximos leilões de infraestrutura será um termômetro importante. Segundo Viola, as ofertas dependerão da percepção de retorno dos investidores em um ambiente de juros mais altos.

Uma pesquisa da Grant Thornton Brasil mostrou que 63% dos diretores financeiros de empresas privadas consideram o custo elevado de financiamento um dos principais obstáculos para os negócios. Os setores mais afetados são varejo (90%), manufatura (85%) e construção civil (75%). Além disso, 38% dos entrevistados estão pessimistas com a economia brasileira para o primeiro semestre de 2025, com a maioria prevendo retração em receitas e lucros, além de aumento nas despesas operacionais.

Com juros mais altos e um cenário fiscal incerto, a tendência é que o mercado enfrente uma postura de maior cautela, com empresas priorizando corte de gastos, ajustes financeiros e maior seletividade em novos projetos. A busca por eficiência e sustentabilidade financeira deverá dominar as estratégias corporativas em 2025.

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