As 10 ações do Ibovespa que mais caíram em maio
A mudança nas projeções para os cortes de juros, a tragédia causada pelas enchentes no Rio Grande do Sul e a derrocada do petróleo no acumulado do mês pesaram sobre os papéis que registraram os piores desempenhos do Ibovespa no período

2024 tinha tudo para ser o ano da bolsa. Mas, pelo menos até aqui, só “tinha” mesmo. Uma série de acontecimentos que levou à piora do cenário interno e externo tem jogado contra o Ibovespa, índice de referência do mercado acionário brasileiro. E as ações que mais caíram em maio refletem parte dessa nova dinâmica que vem se desenhando nos últimos meses.

De forma geral, a reversão nas expectativas para os cortes de juros vem pesando sobre o desempenho dos papéis mais sensíveis à economia doméstica, enquanto os impactos da tragédia causada pelas enchentes no Rio Grande do Sul refletiram em ações de empresas expostas à região.

No mais, as companhias “juniores” de petróleo foram atropeladas pelo recuo da commodity no mercado internacional no saldo do mês. As ações do setor de educação, por sua vez, sentiram os efeitos dos resultados corporativos mais fracos no primeiro trimestre deste ano.

As 10 ações que mais caíram em maio

IRBBRASIL 

PETZ ON

YDUQS PART ON

SUZANO S.A. ON

LOJAS RENNER ON

COGNA ON

3R PETROLEUM ON

PETRORIO ON

LOCALIZA ON

CARREFOUR BR ON

IRB

Os papéis da empresa de resseguros IRB (IRBR3) ocuparam o topo do ranking de maiores quedas do Ibovespa em maio, com acúmulo de perdas na casa dos 20%. Conforme explica Milton Rabelo, analista da VG Research, o recuo das ações no mês pode ser atribuído às enchentes no Rio Grande do Sul.

Os estragos provocados pelas fortes chuvas em vários municípios do Sul levaram a um aumento considerável dos pedidos de indenização. Apesar de ainda não ser possível precisar o impacto financeiro no setor de resseguros, as ações da companhia foram diretamente afetadas pelo prejuízo que ainda está por vir.

“Como as enchentes ainda não terminaram, não é possível afirmar ao certo os danos causados, porém, dentre as empresas do mercado segurador listadas na bolsa, o IRB provavelmente será a empresa mais afetada”, pontua Rabelo.

Em teleconferência de resultados, o presidente do IRB, Marcos Pessôa, disse que trabalha com uma estimativa de capital segurado entre R$ 80 milhões e R$ 160 milhões. Rabelo lembra que no primeiro trimestre deste ano, a empresa reportou um lucro de R$ 79 milhões, o que indica que os impactos da tragédia tendem a pesar sobre os resultados da companhia.

Ainda assim, o especialista reforça que as informações ainda são insuficientes para estimativas mais precisas. Além disso, as operações estão bem protegidas pelas retrocessões, que são, basicamente, uma espécie de resseguros dos resseguradores.

Petz

As ações da Petz (PETZ3), que ficaram na segunda posição na lista de maiores quedas no mês, foram prejudicadas pela deterioração do ambiente macroeconômico e também por questões referentes aos fundamentos próprios da empresa.

O principal fator, avalia Lucas Lima, analista da VG Research, está ligado à piora na cena doméstica, sobretudo por conta das mudanças na meta fiscal e das recentes revisões nas expectativas para os juros e a inflação.

“O risco fiscal é algo que sempre estamos de olho aqui no Brasil, mas que se intensificou com a decisão do governo no mês passado de revisar as metas de superávit para os próximos anos”, diz Lima.

Em relação à política monetária, a verdade é que o placar dividido na última decisão deixou o mercado mais cético sobre o que pode acontecer nos próximos encontros do Comitê de Política Monetária (Copom). Não à toa, o encerramento do ciclo de redução da taxa de juros já vem sendo ponderado entre os agentes financeiros.

Com essa mudança de cenário para a taxa básica de juros, as ações de empresas domésticas, mais sensíveis à dinâmica da economia, são diretamente afetadas, em especial aquelas com estrutura de capital mais apertada e com crescimento acelerado.

O outro ponto está relacionado às questões específicas da própria empresa. Na visão de Lima, os fundamentos da Petz vêm se deteriorando bastante desde o último ano. “A Petz realizou seu IPO em 2020 com um discurso convincente, vendendo uma história de crescimento acelerado. Mas, passados os anos, o cenário do mercado pet mudou muito e as ações já acumulam queda de 70% desde o IPO”, destaca.

O ambiente competitivo mais acirrado tem forçado a empresa a derrubar os preços dos produtos para conseguir manter sua base de clientes, o que tem gerado pressão negativa na margem financeira da companhia.

Vale lembrar que, em abril, os papéis da Petz estiveram entre as maiores altas do Ibovespa, embalados pela possibilidade de fusão com a Cobasi. “A fusão com a Cobasi pode ser um driver positivo importante para os próximos meses, mas ainda há muitas dúvidas sobre a aprovação do CADE e a execução após a fusão”, defende Lima.

Suzano

Os papéis da Suzano (SUZB3) caíram mais de 12% somente em um dia, no início deste mês, após notícia de que a companhia prepara uma proposta de aquisição de cerca de US$ 15 bilhões pela gigante norte-americana do ramo de embalagens International Paper.

Segundo Alexandre Rocha, assessor da RJ+ Investimentos, a preocupação do mercado é, principalmente, pelo tamanho da oferta, que levaria a um nível de alavancagem bastante elevado em relação à dívida pelo tamanho do patrimônio da empresa.

Além da intenção de oferta, os investidores também reagiram aos resultados referentes ao primeiro trimestre deste ano, divulgados pela empresa no início do mês. A Suzano registrou queda de 95,8% no lucro líquido na comparação anual, em razão dos preços mais baixos da celulose, do menor volume de vendas e da desvalorização do dólar em relação ao real.

3R e Prio

As empresas juniores de petróleo, como a 3R (RRRP3) e a Prio (PRIO3), estão entre as maiores baixas no mês, mas o período foi negativo para as petroleiras em geral, que sofreram com a queda de 6% do Brent somente em maio.

No caso da 3R, houve ainda um descontentamento dos acionistas em relação ao acordo pretendido para a nova companhia que vai ser formada após a incorporação com a Enauta.

“Esse acordo não prevê nenhum ‘lock-up’ [cláusula que protege as ações de possíveis especulações] para os acionistas atuais de nenhuma das duas companhias, ou seja, não existe uma vedação à venda das ações por parte dos acionistas, algo incomum quando se trata de uma fusão de grandes proporções”, afirma Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research.

Ela explica que uma boa prática de governança corporativa envolveria um ‘lock-up’ dos acionistas de referência para garantir um alinhamento de interesses no médio e longo prazo entre os investidores majoritários e os minoritários.

Yduqs e Cogna

As ações do setor educacional amargaram fortes perdas no acumulado do mês. E boa parte desse movimento negativo está relacionado aos resultados corporativos divulgados pelas empresas no primeiro trimestre.

A Yduqs (YDUQ3) registrou um lucro 1,1% maior em relação ao último trimestre do ano passado, com avanço do número total de alunos e do ticket médio. A receita líquida da empresa também aumentou 11,5% no período, embalada pelo crescimento da base de matriculados no segmento premium, no ensino presencial e digital.

Por outro lado, avalia Rocha, da RJ+ Investimentos, a margem Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustada da companhia ficou aquém das estimativas, pressionada pelo aumento da inadimplência e despesas com marketing, que saltaram 38,4%, resultando em um incremento no custo de aquisição por aluno.

Situação parecida aconteceu com a Cogna (COGN3), que também teve suas margens impactadas pelo aumento nas despesas de marketing, em especial por causa das campanhas envolvendo a Anhanguera e o ciclo mais pesado de captação de matrículas no primeiro trimestre.

A Cogna, maior grupo de educação, registrou prejuízo de R$ 8,5 milhões no primeiro trimestre, ante lucro líquido de R$ 54,4 milhões no trimestre anterior.

A maior captação de alunos e o incremento de ticket médio nas bases como um todo, explica Rocha, não foi suficiente para sustentar a compressão de margens apresentada pela Kroton, que faz parte do grupo Cogna e atua no ensino superior.

Em geral, a reversão de expectativas em relação à trajetória de juros traz pessimismo às empresas do setor de educação, uma vez que taxas mais altas do que o esperado tendem a limitar a oferta de crédito no mercado. Por consequência, esse cenário afeta diretamente a demanda para o ensino superior privado.

(Valor Invest)

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