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As ações da Vale (VALE3) registraram uma queda de cerca de 3% nesta terça-feira (20), influenciadas pela diminuição dos futuros do minério de ferro na China, em meio a crescentes preocupações sobre as perspectivas de demanda naquele país, apesar de uma nova medida adotada por Pequim para estimular o mercado imobiliário.
O contrato mais negociado na Dalian Commodity Exchange encerrou o dia com uma queda de 5,41%, atingindo 909,5 iuanes (ou 126,35 dólares) por tonelada, o menor valor desde 1º de novembro.
Além disso, os investidores aguardam o balanço da Vale, previsto para quinta-feira, e estão atentos às movimentações em torno de uma eventual troca no comando da mineradora. Entretanto, analistas avaliam que as ações da companhia já refletem o cenário para o minério e as incertezas em relação à empresa. No acumulado do ano, os papéis apresentam uma queda de aproximadamente 15%.
Em um relatório, os analistas da XP elevaram a recomendação dos papéis para "compra". Eles destacaram que, com as expectativas de oferta e demanda por minério de ferro apertadas este ano, os preços das commodities devem se manter elevados no curto prazo. Além disso, a diferença de preço entre a Vale e os preços do minério de ferro sugere um ponto de entrada positivo para as ações. A XP estabeleceu um preço-alvo de R$ 82 para as ações da Vale até o final de 2024.
O BTG Pactual também reiterou a recomendação de compra, com um preço-alvo de R$ 96, ressaltando que "semanas importantes estão por vir para a companhia". Eles observam que as ações da Vale parecem ter se distanciado dos fundamentos nos últimos meses, sendo impulsionadas principalmente por manchetes. Embora existam preocupações estruturais sérias sobre a economia da China, os preços do minério de ferro permaneceram relativamente estáveis, mesmo com o cenário desafiador. No entanto, as ações da Vale continuam próximas das mínimas dos últimos anos, com a empresa perdendo seu lugar entre as mineradoras mais valiosas do mundo em termos de capitalização de mercado.
O BTG atribui essa dissociação principalmente a uma série de incertezas que pairaram sobre as ações nos últimos meses, incluindo incertezas em torno da gestão, provisões adicionais e o potencial para dividendos extraordinários no futuro.
Quanto ao novo CEO, o banco ressalta não ter uma visão clara sobre a sucessão, mas considera positivo o fato de que a interferência governamental no processo parece ter ficado para trás. No entanto, há uma divisão relevante entre os membros do conselho da empresa sobre quem deveria ser o próximo CEO, o que sugere um cenário desafiador para a coesão e o consenso do conselho sobre questões importantes.
O banco também considera provável que a Vale aumente sua provisão para a Samarco para US$ 5-6,5 bilhões, mas observa que a empresa não tem obrigação formal de cumprir a última provisão da BHP de US$ 6,5 bilhões. Além disso, eles projetam que a equipe de administração da Vale adote uma abordagem mais prudente em relação aos dividendos no primeiro semestre de 2024, devido às incertezas adicionais em torno das provisões e passivos.
Em termos operacionais e macroeconômicos, o banco vê o minério em níveis saudáveis e prevê um forte início de ano no Sistema Norte (Carajás), com mais confiança no cumprimento das metas de produção e custos da empresa para 2024. O banco também observa um maior apoio do governo chinês à economia do gigante asiático.
Em suma, embora o fluxo de notícias tenha se deteriorado, o BTG prevê uma melhoria no ambiente operacional para a Vale em 2024 e acredita que muito pessimismo já está precificado nas ações. A Vale continua sendo uma das principais teses contrárias à China, enquanto o governo se esforça para estabilizar a economia.