Galípolo defende Selic elevada por mais tempo e descarta sinalizações antecipadas do BC
O presidente do BC pontuou que manter os juros altos é, muitas vezes, uma decisão mais difícil do que elevá-los

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, defendeu nesta segunda-feira (19) a manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em um patamar "bastante restritivo" por um período prolongado. Durante conferência promovida pelo Goldman Sachs em São Paulo, Galípolo afirmou que, diante do atual cenário de incertezas econômicas, a autarquia não pode se dar ao luxo de oferecer ao mercado o "ansiolítico" da sinalização antecipada sobre seus próximos passos na política monetária ou sobre eventuais cortes futuros nos juros.

Segundo ele, embora entenda a expectativa dos agentes econômicos por uma inflexão na política de juros, o momento exige cautela, flexibilidade e foco nas informações disponíveis. Galípolo destacou que, apesar do juro elevado, a economia brasileira tem demonstrado resiliência e crescimento surpreendente nos últimos anos, mesmo com expectativas inflacionárias ainda desancoradas. Por isso, afirmou que o país deve conviver com uma taxa Selic em nível restritivo "por bastante tempo".

O presidente do BC pontuou que manter os juros altos é, muitas vezes, uma decisão mais difícil do que elevá-los. Ao comentar a dependência de dados para orientar futuras decisões, ressaltou que o Banco Central não vai reagir a oscilações pontuais de indicadores. Em vez disso, a análise continuará abrangendo todos os temas estruturais indicados em suas comunicações oficiais. "Agora é um momento mais de a gente falar como a gente vai reagir e não o que nós vamos fazer", declarou.

Galípolo também comentou que parte do mercado incorpora em suas projeções para a inflação a expectativa de que o governo poderá adotar medidas de estímulo fiscal, o que poderia contrariar o esforço da política monetária em conter a atividade econômica e controlar os preços. Segundo ele, isso representa um desafio adicional para o BC, que precisa calibrar sua atuação mesmo diante de políticas fiscais ainda incertas. “É a dança que o Banco Central precisa fazer”, disse.

Reforçando o compromisso com a estabilidade de preços, Galípolo reiterou que a autoridade monetária está comprometida com a meta de inflação de 3% e que não há discussão alguma sobre mudança dessa meta. “Não há nenhum tipo de tergiversação ou flexibilização em relação à meta de inflação”, afirmou.

Na mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC desacelerou o ritmo de alta da Selic, promovendo um aumento de 0,50 ponto percentual, para 14,75% ao ano. A decisão deixou em aberto os próximos passos, reforçando a dependência da análise dos dados econômicos. Na mesma ocasião, o BC revisou o balanço de riscos para a inflação, retirando a menção anterior à assimetria em favor de riscos altistas. Segundo Galípolo, há consenso entre os diretores da instituição de que os riscos seguem elevados, mas menos assimétricos, ainda que a dispersão nas projeções tenha aumentado.

No cenário internacional, Galípolo disse que ainda não há elementos suficientes para afirmar que o ambiente externo se estabilizou. Em meio às tensões comerciais entre Estados Unidos e China, destacou a complexidade da análise sobre os efeitos das tarifas de importação e o grau de impacto que essas medidas podem ter no comércio global e, por consequência, na economia brasileira.

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