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A visão de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central poderá ser obrigado a elevar a taxa Selic até o final do ano tem ganhado força entre gestores de mercado. Essa expectativa foi intensificada após declarações contundentes de diretores da autoridade monetária nos últimos dias.
Na semana passada, Gabriel Galípolo, um dos diretores do Banco Central, afirmou que uma “alta da Selic está na mesa” e que, embora o custo para atingir a meta de inflação possa variar, o Banco Central não desviará de seu objetivo. Na sequência, Diogo Guillen, diretor de política econômica do BC, reforçou essa posição, indicando que o Comitê vê a necessidade de elevação dos juros como uma possibilidade concreta, diante dos riscos adicionais no cenário econômico.
Essas declarações impactaram positivamente o mercado, levando a um recuo nos juros futuros e à valorização do real frente ao dólar.
“Achamos que o BC vai subir [os juros]. O Galípolo foi muito claro, e ontem, o Diogo [Guillen] também”, afirmou Luiz Eduardo Portella, sócio e gestor da Novus Capital. Para ele, quatro aumentos consecutivos de 0,25 ponto percentual a partir de setembro poderiam ser suficientes para garantir a convergência da inflação à meta.
Portella destacou que os recentes discursos dos diretores do Banco Central fortaleceram a credibilidade da instituição em garantir a convergência da inflação à meta, inclusive por meio de possíveis elevações na Selic. As declarações também foram cruciais para evitar novas altas nas expectativas de inflação para 2025 e 2026, conforme registrado no Boletim Focus, e para conter a depreciação cambial.
Segundo o Boletim Focus desta semana, a previsão para a inflação de 2025 caiu ligeiramente de 3,98% para 3,97%, enquanto a projeção para 2026 foi mantida em 3,60%, valor que se mantém há dez semanas.
Na Itaú Asset, a percepção é semelhante. Durante um evento da Warren Investimentos na segunda-feira (12), Bruno Serra, gestor da Itaú Asset e ex-diretor do Banco Central, afirmou que, embora a recente apreciação do real em relação ao dólar seja relevante, ela não elimina a possibilidade de um aumento da Selic ainda este ano.
“O efeito do câmbio se manifesta principalmente em um horizonte de três a quatro trimestres”, explicou Serra. “Quando olhamos para um horizonte de seis trimestres, o efeito é secundário. O câmbio, por si só, não nos tira da necessidade de uma eventual alta de juros. O que poderia evitar [a alta da Selic] seria uma rápida queda nas expectativas de inflação e uma reversão rápida do hiato do produto”, concluiu o executivo, indicando que o BC pode não ter outra opção a não ser aumentar os juros até o fim do ano.
Luiz Parreiras, gestor de portfólio na Verde Asset Management, que participou do mesmo evento, compartilhou a mesma opinião. Ele afirmou que será difícil trazer as expectativas de inflação de volta ao controle sem uma alta da Selic neste ano. A Verde projeta que a inflação chegue a 4,30% no próximo ano.
“Estamos contratando uma inflação mais alta do que a projetada no Focus. Nesse sentido, a balança pende mais para a necessidade de uma alta dos juros do que para manter a taxa elevada por mais tempo”, resumiu Parreiras.
Outra gestora que acredita na elevação dos juros até o final do ano é a Genoa Capital. André Raduan, gestor da Genoa, afirmou na segunda-feira que um aumento da Selic poderia ancorar melhor as expectativas de inflação, reduzir o prêmio de risco e, eventualmente, abrir espaço para cortes maiores nos juros no segundo semestre do próximo ano.
Com essas perspectivas, o mercado se prepara para a possibilidade de um ajuste na política monetária do Banco Central, em resposta aos desafios inflacionários e às pressões econômicas que se desenham para os próximos meses.