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O Banco Central não surpreendeu e deu sequência ao ciclo de queda da Selic nesta quarta-feira (20), ao cortar a taxa básica de juros para 12,75% ao ano. Mas, com a decisão já aguardada pelo mercado, como ficam as estratégias de alocação em ativos de renda fixa e renda variável?
Em comunicado, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) destacou que deve manter o ritmo de cortes em 0,50 ponto percentual, e que “esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”. Parte do mercado esperava um aceno à possibilidade de aceleração do ritmo de corte para 0,75 ponto percentual.
Diante da última decisão do BC, especialistas ouvidos pelo InfoMoney não enxergam espaço para grandes alterações na carteira, mas afirmam que o mercado tem boas oportunidades em todas as classes de ativos.
Na renda fixa, “as taxas seguem em patamar atrativo, com juro real muito elevado”, segundo, Clayton Calixto, especialista de portfólio da Santander Asset. Na renda variável, Ariane Benedito, economista da Esh Capital, destaca que “o cenário é favorável, já que é possível comprar ativos descontados, esperando o retorno do seu valor justo no ciclo de corte de juros”.
Diante da previsibilidade até aqui da política monetária, especialistas apontam as oportunidades e riscos nos investimentos. Confira a seguir.
Renda fixa
Analistas apontam que, embora a rentabilidade da renda fixa tenha diminuído, continua alta — cenário que deve se prolongar, já que o mercado espera Selic em dois dígitos até o ano que vem.
- Títulos de inflação
Os títulos indexados à inflação são os favoritos dos analistas. Isso porque são coringas: se o cenário macroeconômico melhorar, a parte prefixada da remuneração dará ao investidor a chance de lucrar com a venda antecipada do título, enquanto, em caso de piora, a proteção contra a inflação fará seu papel.
Analistas da Quantzed e Sicredi Asset recomendam os títulos do Tesouro IPCA+ de curto prazo, com vencimento em até cinco anos.
“O investidor pode se beneficiar em cenários inflacionários e com o prêmio real, é uma forma cautelosa de exposição a juros”, explica Ricardo Sommer, diretor da Sicredi Asset.
- Pós-fixados
Nos pós-fixados, que passam a render menos automaticamente após a queda da Selic, a recomendação é de alocação para reserva de emergência ou gestão de caixa. “Nos mantemos em pós-fixados, mesmo com rentabilidade reduzida”, diz Lucas Queiroz, estrategista de renda fixa para pessoa física do Itaú BBA.
- Prefixados
Os prefixados, quando recomendados, são indicados para o curto prazo. Nenhum analista ouvido pelo InfoMoney recomenda investimento em prefixados longos, já que ainda há muita incerteza no longo prazo — principalmente na questão fiscal, já que a capacidade do governo de zerar o déficit primário em 2024 vem sendo questionada pelo mercado.
Para Vinicius Romano, head de renda fixa na Suno Research, o mercado já precifica a projeção otimista de Selic a 9% em 2024, portanto os “prefixados já embutem essa trajetória”. Dessa forma, há pouco espaço para ganhos adicionais — pelo contrário, a chance maior seria de decepção, colocando retornos de prefixados em risco.
Segundo Queiroz, a aposta em pós-fixados e cautela com prefixados serve ao propósito de “correr o menor risco possível em juros”.
Fundos Imobiliários
O corte na Selic é visto como alavanca para a indústria de fundos imobiliários, cujo potencial pode justificar até alocação por parte de investidores de renda fixa como solução para adicionar mais risco à carteira, destaca Romano, da Suno: “é uma janela de oportunidade”.
Especialistas, porém, alertam para a necessidade de resposta dos FIIs ao afrouxamento monetário, já que eles são afetados por diversos fatores macroeconômicos.
Desde a última reunião do Copom, em 2 de agosto, o Ifix – índice que mede o desempenho dos FIIs mais negociados na B3 – teve valorização de 1%.
Kaique Fonseca, economista e sócio da A7 Capital, vê o investidor de varejo mais interessado nos ativos de risco, que tendem a avançar nos próximos meses.
As oportunidades, diz, estão tanto nos fundos de papel, que investem em títulos de renda fixa ligados ao mercado imobiliário; como nos “de tijolo”, que investem diretamente em ativos como prédios comerciais, shopping centers e galpões de logística.
Ações“Os fundos de recebíveis têm, agora, títulos com taxas muito interessantes, enquanto os de tijolo passam por uma remarcação positiva do patrimônio, com tendência de mais valorização das cotas”, analisa Fonseca.
A queda de juros é vista como positiva para investimento em ações, mas as incertezas nos cenários local e global fazem analistas adotarem posição de neutralidade em Bolsa, apostando no stock picking. No Brasil, as atenções estão voltadas para a trajetória da dívida pública, e, no mundo, agentes econômicos observam os juros dos EUA, a alta do petróleo e a situação econômica da China.
A carteira de ações recomendadas para setembro do Santander, por exemplo, mostra que há oportunidades em vários setores, mesmo no varejo, que tem voto de desconfiança do mercado há tempos. A lista tem ações da Vivara (VIVA3), Cyrela (CYRE3), Itaú (ITUB4), Equatorial (EQTL3) e Localiza (RENT3).
Na lista da Nova Futura Investimentos, nenhum setor tem mais de um representante. A ação com maior peso é da BB Seguridade (BBSE3). A carteira ainda conta com papéis da Prio (PRIO3), JBS (JBSS3), Suzano (SUZB3) e Vale (VALE3).
Fundos de investimento
Para quem quer diversificação e a mão de especialistas nas aplicações, os fundos de investimento se apresentam como opção. Alguns tipos, segundos especialistas, estão melhor posicionados para capturar as oportunidades do mercado hoje.
Um dos destaques, de acordo com Calixto, do Santander Asset, são os fundos multimercados, que investem em diversos instrumentos de renda fixa e renda variável — mas que ainda passam por uma maré de resgates no Brasil.
“Eles conseguem navegar melhor o cenário que vivemos atualmente, com direções opostas nas economias desenvolvidas e emergentes”, diz o especialista.
Entre as recomendações de alocação neste momento aparecem os fundos de crédito privado, que investem em títulos de dívida de empresas não financeiras; ativos indexados ao CDI, com spreads considerados razoáveis, além dos fundos de renda fixa, já que gestores “surfam bem a queda de juros e conseguem se posicionar em todos os vértices da curva’, da parte mais longa à mais curta”, lembra Calixto.