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As duas imunizações, que depois de milhões de doses administradas em todo o mundo não deixam mais dúvidas sobre sua eficácia, são apenas um exemplo do potencial da molécula que ensina o corpo a se defender contra um vírus ou células nocivas.
Há 20 anos, o imunologista e sua equipe se dedicam à pesquisa do uso de uma vacina a base de RNA mensageiro para combater o câncer. O tratamento, explica o especialista francês, é totalmente individualizado e estudado em voluntários há cerca de dez anos. “Cada paciente recebe uma vacina feita especialmente para ele, que vai agir contra suas próprias células tumorais”, explica Pascolo.
Para fabricá-las, os cientistas fazem uma biópsia do tumor e sequenciam seu genoma. Em seguida, eles desenvolvem uma molécula de RNA que codifica as proteínas responsáveis pelas mutações das células normais, que então se tornam cancerígenas. “O paciente então terá uma resposta imunitária contra as mutações que criaram seu câncer”, explica Pascolo.
Como as mutações são diferentes nos pacientes, reitera o imunologista francês, o procedimento deve ser feito individualmente e demora cerca de três meses, a partir da realização da biópsia. “Por isso eu sabia, desde o início da pandemia, que a vacina com o RNA estaria pronta em menos de três meses. É o tempo que levamos normalmente, para criar a vacina para nossos pacientes com câncer”, exemplifica.
Os testes clínicos do novo tratamento contra o câncer estão na fase 2 e são realizados pela BioNTech, a mesma empresa alemã que se associou à Pfizer no desenvolvimento da imunização contra a Covid-19, em parceria com pesquisadores americanos. Essa fase, diz Pascolo, inclui pacientes com todo tipo de câncer, como melanomas ou tumores do pulmão. “É uma grande esperança porque os tratamentos são mais precisos, eficazes e com menos efeitos secundários.”
A terapia também não se limita a alguns tipos de câncer porque todos os tumores carregam algum tipo de mutação, esclarece o imunologista. “Como a vacina visa as mutações, pode ser um câncer do pulmão, cólon ou da pele. Vamos identificá-las no sequenciamento do genoma e injetar a molécula de RNA no paciente, que vai codificar a proteína usada pela célula para se reproduzir desordenadamente”, detalha. O sistema imunológico conseguirá, desta forma, impedir o tumor de se desenvolver e ele acabará desaparecendo.
Outras terapias
A tecnologia do RNA mensageiro também pode ser usada em outras doenças. Um exemplo, frisa o imunologista francês, é a fibrose cística, uma doença genética grave e crônica que afeta o pâncreas, os pulmões ou o sistema digestivo. O gene defeituoso gera a produção de uma proteína que leva o organismo a fabricar muco, essencial para o equilíbrio de vários órgãos, quase 60 vezes mais espesso do que o normal. “Você pode administrar, por inalação, o RNA que codifica essa proteína”, explica Pascolo.
A técnica utilizada, explica o imunologista, é diferente do princípio da vacina. “Administramos um RNA que provoca diretamente uma resposta imunitária. É uma grande esperança para doenças genéticas e degenerativas. Muitos projetos estão sendo desenvolvidos. No futuro, as pessoas vão ouvir falar do RNA mensageiro para outros tratamentos”, explica o especialista.
Para Steve Pascolo, a proeza científica obtida nas imunizações contra a Covid-19 é uma amostra do que está por vir. “É uma revolução nos tratamentos médicos. O RNA será cada vez mais mencionado nos novos medicamentos para doenças que hoje não têm solução. Há uma grande esperança para as terapias que utilizam o RNA em geral.”
(Agência RFI)