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As taxas dos títulos públicos têm experimentado uma notável abertura nas últimas semanas. Em particular, o Tesouro IPCA+ 2045, que tipicamente ostenta a mais alta remuneração entre os títulos de inflação, iniciou abril com uma taxa de IPCA+5,88%. Hoje, o rendimento real desse título ultrapassou a marca dos 6%. Enquanto isso, nos títulos prefixados, a taxa para 2031 saltou de 11% ao ano para 11,73%.
O aumento da remuneração está diretamente correlacionado à percepção de risco nos investimentos brasileiros. Contudo, para o investidor que já planejava aportes no Tesouro Direto, especialmente aqueles com um horizonte de investimentos mais longo, este momento pode representar uma oportunidade auspiciosa.
Mas por que as taxas aumentaram tão significativamente? A resposta reside nos Estados Unidos, a bússola econômica global. Os últimos três indicadores de inflação ao consumidor no país foram desanimadores, de acordo com a análise do mercado. Entretanto, o último dado, que revelou um aumento de 0,4% nos preços em março, foi uma exceção, conforme observa Lucas Queiroz, estrategista de renda fixa para pessoa física do Itaú BBA. O Federal Reserve (o banco central dos EUA) indicou sua intenção de basear suas decisões de política monetária em dados concretos, aguardando uma desaceleração sustentada da inflação antes de considerar cortes nas taxas de juros.
Enquanto o mercado vinha precificando o início do ciclo de cortes para setembro, o Itaú BBA agora projeta essa mudança apenas em dezembro. Esse ajuste reflete a cautela em meio à incerteza, especialmente com uma eleição no horizonte.
Além disso, a insatisfação do mercado com a revisão da meta fiscal para 2025 também contribui para a elevação das taxas. Contudo, especialistas ressaltam que o estresse do mercado está mais intimamente ligado ao cenário internacional.
Os títulos prefixados, que estavam em desvantagem no início do ano devido à proximidade entre suas remunerações e as expectativas de juros futuros do mercado, agora apresentam uma narrativa diferente. Com taxas acima de 11%, surgem oportunidades atrativas de investimento. No entanto, é importante salientar que esses títulos podem ser arriscados, especialmente diante de surpresas na inflação ou na taxa Selic.
Em meio a esse cenário, especialistas recomendam que apenas investidores com perfis moderados ou agressivos considerem os prefixados, dada a volatilidade esperada, enquanto o Tesouro Selic e o Tesouro IPCA+ continuam sendo opções sólidas para qualquer investidor. O importante é ter uma estratégia bem definida e um horizonte de investimento alinhado às oscilações esperadas no mercado.
Embora haja previsões de novos aumentos nas taxas dos títulos públicos, é crucial que os investidores considerem não apenas o curto prazo, mas também o impacto da volatilidade em suas carteiras. A maturação das oportunidades pode demandar paciência e uma visão de longo prazo, especialmente considerando a expectativa de uma estabilização das taxas até o final do ano.