Campos Neto destaca incertezas sobre a inflação e defende ajuste na dívida pública
Campos Neto enfatizou que todas as fases de queda sustentada dos juros no Brasil foram acompanhadas por "choques positivos" na política fiscal

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou nesta sexta-feira, 27, que, apesar de a inflação no Brasil ter mostrado "alguma melhora", ainda há incertezas em relação aos seus componentes. A declaração foi feita durante um encontro promovido pela gestora 1618 Investimentos.

Campos Neto ressaltou que, infelizmente, Brasil e Rússia estão na contramão do resto do mundo, onde se espera um aumento das taxas de juros.

Transição energética e agenda de abertura comercial

Durante o encontro, Campos Neto também destacou as vantagens do Brasil na transição energética, considerando que o país possui energia barata e renovável em larga escala. No entanto, ele ponderou a importância da implementação de uma agenda de abertura comercial para aproveitar plenamente essas vantagens.

Queda de juros e responsabilidade fiscal

Campos Neto enfatizou que todas as fases de queda sustentada dos juros no Brasil foram acompanhadas por "choques positivos" na política fiscal, como a aprovação do teto dos gastos e do novo arcabouço fiscal. Segundo ele, esses eventos criaram espaço para trabalhar com uma taxa Selic mais baixa.

"Em todos os momentos na história recente brasileira, você ser capaz de cair os juros e conviver com os juros mais baixos está associado a um choque positivo no fiscal. Não existe harmonia monetária sem ter harmonia fiscal", afirmou Campos Neto. Ele completou dizendo que tentar aplicar uma política monetária restritiva enquanto se conduz uma política fiscal mais frouxa gera ineficiências.

O presidente do BC também defendeu um ajuste mais sério e rápido da dívida pública, argumentando que uma dívida crescente combinada com uma taxa de juros neutra de 4% a 5%, como é o caso do Brasil, aumenta a velocidade do crescimento da dívida. "Quando projetamos para o futuro, percebemos a necessidade de um ajuste mais sério e mais rápido", declarou.

Autonomia financeira do Banco Central

Campos Neto voltou a defender a autonomia financeira e administrativa do Banco Central. "É importante avançarmos na autonomia financeira e administrativa", afirmou, referindo-se à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) sobre o tema, que está sendo debatida na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.

Ele ressaltou que um governo pode prejudicar a autonomia operacional do BC por meio dos canais financeiro e administrativo. Em uma avaliação de seu mandato à frente do BC, que termina em 31 de dezembro, Campos Neto destacou ter lutado pela independência da instituição e espera que os próximos líderes do Banco Central reconheçam a importância dessa autonomia para a condução da política monetária.

"A aprovação da autonomia operacional do BC foi importante, e seus méritos são reconhecidos pelo Congresso Nacional, que deve manter e aperfeiçoar essa independência", concluiu Campos Neto.

redacao
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