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O diretor de Política Monetária do Banco Central e indicado do presidente Lula para presidir a instituição, Gabriel Galípolo, afirmou nesta sexta-feira (15) que a recente vitória de Donald Trump nas eleições americanas fortaleceu o dólar, gerando impactos significativos nas economias emergentes e de baixa renda. Durante o painel G20 Talks, no evento Cria G20, realizado no Rio de Janeiro, Galípolo destacou os desafios impostos pelo cenário global ao desenvolvimento econômico de países latino-americanos e africanos.
O impacto do "Trump trade"
Galípolo explicou que as propostas de Trump, como o aumento das tarifas de importação e políticas protecionistas, devem levar a um aumento generalizado dos preços nos Estados Unidos, impulsionando a inflação. Em resposta, o Federal Reserve (Fed) pode não reduzir os juros tanto quanto o esperado, resultando na alta das taxas dos títulos americanos, os Treasuries.
— Essa elevação nas taxas de juros americanas provoca o que para o resto do mundo? Geralmente, os juros que o mundo cobra para todos os outros países são os juros americanos (...). Logo, ao ter juros americanos mais altos, foi imposto a todos os outros países um custo financeiro mais alto para conseguir se financiar — afirmou.
O economista classificou esse movimento como efeito Trump trade, enfatizando que os países emergentes e de baixa renda, especialmente na América Latina e África, enfrentam as maiores dificuldades com os custos financeiros crescentes.
Críticas ao sistema financeiro global
Galípolo também criticou o atual arranjo financeiro global, reforçando que o modelo imposto pelo dólar como moeda de referência internacional continua a penalizar países historicamente marginalizados. Ele argumentou que o aumento dos juros em economias avançadas, após o endividamento gerado durante a pandemia, tem aprofundado as dificuldades enfrentadas por economias menores.
— Se eu tenho um estoque de dívida maior e juros maiores, o que acaba acontecendo (...) é que preciso de mais dinheiro para rolar essa dívida. Isso fez com que as economias avançadas sugassem mais recursos do mercado global para conseguir pagar sua própria dívida — explicou.
Segundo Galípolo, esse desequilíbrio reforça a necessidade de uma nova arquitetura financeira global, que integre economias menores ao debate econômico e reduza a dependência dessas nações em relação a países desenvolvidos.
"Reglobalizar" ao invés de desglobalizar
Ao abordar a crescente crítica à globalização, o diretor do BC afirmou que a solução não está em desglobalizar as economias, mas sim em promover uma "reglobalização", garantindo que países emergentes participem de forma mais ativa nas discussões comerciais e monetárias internacionais.
— Reglobalizar. É uma ideia que não significa não ser crítico à globalização que ocorreu e não (perceber) que essa globalização ofereceu problemas — disse. — Mas se a globalização econômica teve bastante sucesso, faltou inserir critérios de gestão nesse processo naquilo que se trata de sustentabilidade social, de justiça social e de sustentabilidade ambiental.
Propostas para um sistema mais inclusivo
Galípolo defendeu que a reformulação do sistema financeiro global inclua critérios mais robustos de sustentabilidade ambiental, justiça social e governança, criando um equilíbrio que atenda às necessidades de países historicamente desfavorecidos. Para ele, a globalização econômica, embora bem-sucedida em alguns aspectos, precisa ser ajustada para incorporar esses princípios fundamentais.